O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a senha na entrevista ao Roda Viva de segunda-feira: para disputar a reeleição, precisa montar uma aliança política mais ampla que a de 2002 e deve substituir o empresário José Alencar (PMR) como candidato a vice.
O alvo de Lula é ter um vice do PMDB, segundo dois dirigente políticos muito próximos ao presidente que pediram para não serem identificados. Entre os obstáculos a esse projeto está a verticalização das coligações, que ainda pode ser derrubada pelo Congresso, além das forças do PMDB que defendem o lançamento de candidato próprio. O apoio do partido também é cobiçado pela oposição.
No programa da TV Cultura, pela primeira vez Lula mencionou em público o problema da aliança política como condicionante do projeto de reeleição. "Preciso ter uma aliança que me garanta maioria no Congresso", disse o presidente ao responder sobre a candidatura em 2006, que ele ainda não assumiu, mas já é um dado de realidade para seus aliados e para a oposição.
A substituição de Alencar na chapa de 2006 tornou-se uma "questão objetiva", apesar das boas relações pessoais entre o presidente e o vice. "Ele praticamente excluiu-se da chapa quando se filiou a um partido recém-criado", disse um dos dirigentes. No final de setembro, Alencar filiou-se ao PMR, ainda menos denso politicamente que o PL, pelo qual o vice foi eleito em 2002.
Logo depois de deixar o PL, envolvido em pelo menos R$ 12 milhões no chamado valerioduto, Alencar recebeu e recusou uma oferta para filiar-se ao PSB, o que o manteria na órbita dos partidos de esquerda comprometidos com o projeto da reeleição. Além de não ter combinado com Lula ou seus articuladores a filiação ao PMR, Alencar chegou a esse partido em posição de disputar qualquer cargo em 2006, inclusive a Presidência da República.
O fator decisivo para a substituição do candidato a vice, no entanto, é a necessidade de uma aliança política para sustentar um eventual segundo governo Lula no Congresso. Em 2002, Alencar cumpriu um papel eleitoralmente importante. Primeiro, por ser um empresário bem-sucedido, sinalizando o que auxiliares de Lula chamam de "aliança social" entre o mundo do capital e o do trabalho. O fato de Alencar ser filiado ao PL também deu à chapa de Lula um componente partidário "de centro", o que demonstraria uma superação do sectarismo atribuído ao PT e à esquerda. Contou, por último, o fato de ser um senador de Minas, segundo maior colégio eleitoral do País.
Para a tentativa de reeleição em 2006, o critério da escolha do vice será diferente, privilegiando a sustentação política no Congresso. O Planalto não conta com uma repetição do desempenho do PT, que elegeu 91 deputados em 2002, muito menos com a boa vontade da oposição, que facilitou a aprovação das reformas tributária e da Previdência no primeiro ano do governo.
Lula tentou governar com apoio do PL, do PTB e do PP, além dos partidos de esquerda. Ao fim de um ano de governo precisou cooptar parcela do PMDB com dois ministérios e, em julho último, em plena crise, fez um pacto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), envolvendo os importantes ministérios da Saúde e de Minas e Energia. O Planalto, no entanto, joga com a possibilidade de modificar essa decisão até abril, quando serão definidas oficialmente as candidaturas ao Planalto. Fora do PMDB, a alternativa de Lula é buscar o vice no PSB, ao qual se filiou o ministro Ciro Gomes, em agosto.