Lula troca gentilezas com Neguinho da Beija-Flor

Em busca de novos recordes de popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou oito horas na Sapucaí e teve o nome saudado na madrugada de hoje pelo intérprete Neguinho da Beija-Flor, um dos mais carismáticos personagens do carnaval carioca. O sambista, que ofuscou no noticiário até as “popozudas” madrinhas de bateria ao começar uma luta contra o câncer, trocou afagos e abraços com o presidente depois do desfile.

A celebração da aliança de Lula com Neguinho teve um preço considerado indigesto por auxiliares do Planalto. O presidente cedeu a imagem a políticos da família do contraventor e patrono da escola de Nilópolis, Aniz Abraão David, o Anísio, que controla o município da Baixada Fluminense e foi preso quatro vezes pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

Antes de o carro de som da escola percorrer a avenida e parar em frente ao camarote do governador Sérgio Cabral, onde Neguinho trocaria o tradicional grito de guerra “Olha a Beija-Flor aí, gente!” pela frase “Olha o presidente Lula aí gente!”, o deputado federal e primo de Anísio, Simão Sessim (PP) acenou e mandou seguranças entregarem a Lula uma caixa. “É o kit completo da Beija-Flor!”, disse o parlamentar, referindo-se a um jogo de camisas e brindes com a marca da escola.

O público que lotou as arquibancadas e os camarotes instalados em prédios do sambódromo com infiltrações, janelas e portas quebradas, e um indisfarçável mau cheiro, não reagiu com vaias ou aplausos efusivos às citações do nome de Lula por Neguinho da Beija-Flor. Para evitar que os cariocas voltassem a vaiar o presidente, como ocorreu no Maracanã em 2007 durante a abertura dos Jogos Pan-Americanos, o Planalto organizou uma chegada discreta de Lula ao sambódromo, impedindo até mesmo que o locutor oficial informasse que ele estava presente à festa.

O momento mais marcante do desfile da escola ocorreu por volta de 3h30, quando Lula, no camarote, e Neguinho, em cima do carro de som, trocaram gentilezas. O presidente chegou a levar várias vezes as mãos ao peito para agradecer os gestos do sambista. O último presidente a torcer publicamente pela Beija-Flor foi João Figueiredo (1979-1985), último do ciclo militar.

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