Brasília – A repercussão da morte do papa João Paulo II vai esfriar as turbulências no Congresso esta semana e dar um tempo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva interferir diretamente no processo de reorganização de sua base de sustentação parlamentar, que se esfacelou a partir do começo deste ano com a eleição do presidente da Câmara e a frustrante reforma ministerial, que acabou não ocorrendo.

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O clima de comoção no maior país católico do mundo coloca em segundo plano os conflitos, mesmo que políticos, e o governo pretende aproveitar essa trégua inesperada. Esta é a avaliação do Palácio do Planalto. O presidente Lula tomou para si a iniciativa de comandar o processo de rearticulação de sua base. E um dos exemplos é a reaproximação com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que na sexta-feira fez proposta de trégua ao ministro José Dirceu (Casa Civil).

Quando foi confirmada a morte do papa no sábado, Lula pediu que Severino fosse convidado para a comitiva que irá ao enterro. Em conversas com membros do governo, Severino já havia manifestado interesse em acompanhar o presidente, que pretende viajar na quinta-feira. Lula também convidou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A Câmara e o Senado deverão ter sessões mais tranqüilas nesta semana, com o adiamento da entrada em pauta de projetos polêmicos nos quais há risco de o governo ser derrotado, como a emenda que aumenta o repasse de verbas para os municípios.

Desde o engavetamento da ampla reforma ministerial duas semanas atrás, quando Lula decidiu não dar mais uma pasta ao PP de Severino, a relação deles piorou. Contrariado com Severino, que lhe dera um ultimato, exigindo nomeação de ministro pepista sob pena de o seu partido rumar para a oposição, Lula suspendeu o tema reforma ministerial ampla. Fez só duas trocas: Paulo Bernardo assumiu o Planejamento, e Romero Jucá, a Previdência.

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Uma coleção de derrotas

Brasília – Ao engavetar a reforma, Lula deixou questões em aberto que continuam a dificultar a reorganização da sua base parlamentar, sobretudo na Câmara. Além da aprovação de projetos que, se confirmados no Senado, elevam os gastos públicos, o governo finalmente recuou na MP 232 após série de tropeços no Congresso.

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A 232, MP feita para dar boa notícia à classe média e aos sindicalistas ligados ao PT (10% de correção da tabela do Imposto de Renda), originou campanha de setores da sociedade contra o governo devido ao aumento de impostos de empresas prestadoras de serviços embutido na medida. Resultado: foi uma das maiores derrotas de Lula, na qual até o ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda), tido como habilidoso e acostumado a vitórias, acabou ferido.

Há pressão de aliados de Lula para que ele reabra questões da reforma, como trocar o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), que continua a ser bombardeado pelo PT nos bastidores.