Brasília
– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ontem os 91 deputados e 14 senadores que formarão a bancada do Partido dos Trabalhadores do Congresso em 2003 para pedir “responsabilidade” aos companheiros. Lula lembrou aos parlamentares que o PT agora será governo: “Temos que mostrar capacidade de cumprir a expectativa que criamos na cabeça do povo”, disse.Lula falou durante 20 minutos e pediu paciência aos petistas, segundo o porta-voz André Singer. Além dos deputados e senadores eleitos, participaram do encontro o coordenador da transição, Antonio Palocci, o presidente nacional do PT, José Dirceu, e o secretário-geral do partido, Luiz Dulci. O encontro de Lula com os atuais e futuros parlamentares do PT serviu também para se fazer um relato do processo de transição, da situação atual do país, e das expectativas para o futuro. O encontro serviu para afinar o discurso com o Partido e foi marcado pelo debate acerca da formulação dos programas e da composição do próximo governo.
José Dirceu negou que haja insatisfação da bancada do partido em relação às articulações políticas que visam a assegurar uma maioria parlamentar no Congresso Nacional, fundamental para a aprovação de propostas e projetos do governo de Lula.
“Não tem nenhum parlamentar insatisfeito”, garantiu Dirceu, descartando notícias veiculadas por alguns jornais brasileiros. Sobre a posição do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e do PFL (Partido da Frente Liberal) de atuarem na oposição ao governo, José Dirceu disse que o PT respeitará essa postura. “Nós estamos reconhecendo e respeitando o papel do PSDB e do PFL, na oposição”, disse. “Eu falei isso de maneira clara para a sociedade: o PT, como oposição, foi deslegitimado, descredenciado e discriminado. Nós não faremos isso.”
Quanto ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), Dirceu assinalou que é indispensável o apoio do partido ao governo Lula. “É público e notório que a maioria do partido apoiou o candidato Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro e segundo turnos”, ressaltou. “Então, seria impensável que nós não tivéssemos uma relação com o PMDB, até porque dois governadores do PMDB (Luiz Henrique, de Santa Catarina, e Roberto Requião, do Paraná), que foram eleitos, apoiaram Lula no primeiro turno e o outro no segundo”.
Entretanto, a senadora Heloísa Helena, que representa uma ala considerada radical dentro do PT, mostrou certa insatisfação com o processo de transição, antes da reunião. “Tanto a bancada como as instâncias partidárias devem ser ouvidas”, disse. “Eu não quero ser ouvida em relação à disputa de cargos, à indicação de nomes. Eu quero ser ouvida, assim como a maioria dos militantes, em relação à concepção programática, projetos e definições políticas que serão implementadas pelo novo governo”.
Dirceu pede calma a deputados do PT
Brasília
– O presidente nacional do PT, deputado reeleito José Dirceu (SP), pediu ontem calma aos deputados do partido em relação ao novo governo e disse que a transição para uma nova política econômica levará de seis a 18 meses. O coordenador-geral da equipe de transição, Antônio Palocci, também alertou os parlamentares de que a política econômica não será mudada em 1.º de janeiro – “pode ser um período mais longo ou mais curto”. O discurso do presidente petista, sobretudo, destacou as dificuldades econômicas do momento para tentar conter as expectativas da bancada, sem, contudo, afastar do horizonte a esperança de mudanças mais profundas no País.“Somos de esquerda e socialistas”, ressaltou. “As elites fracassaram, o consenso de Washington fracassou e é preciso retomar um projeto de desenvolvimento do País.” O presidente do PT afirmou que a governabilidade depende de uma nova coalizão política, inclusive com setores que não são “nem sequer de centro”, e que é preciso ter calma porque existem três transições em curso: a de governo, a de política econômica, que poderia tardar até 18 meses, e a que realmente vai mudar o País.