Lula teme desgastes com os radicais do PT

São Paulo

– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem um recado claro aos integrantes da executiva nacional do partido. Ele quer que as diversas facções petistas se mantenham unidas durante o governo, a exemplo do que ocorreu na campanha eleitoral. A avaliação de Lula é que divergências internas poderiam causar desgaste além do necessário na sua própria imagem e na do Palácio do Planalto. Apesar disso, ele garantiu que todos os movimentos terão voz nas discussões e tomadas de decisões.

O candidato derrotado ao governo de São Paulo pelo PT, José Genoino, disse que a proposta foi bem aceita. “O PT está unido e é assim que deve continuar. Na opinião de Lula só vencemos a disputa pela Presidência porque o partido ficou unido do início ao fim. Agora, durante os quatro anos de mandato, tem que ocorrer o mesmo”, afirmou. O deputado federal Ivan Valente (PT-SP) que pertence à Democracia Radical, mais à esquerda do PT, também participou da reunião e disse que a conversa foi boa. “O Lula garantiu que todas as facções e setores do PT serão consultados para tomar as decisões. É claro que, como sempre acontece no partido, vai prevalecer o entendimento da maioria”, disse.

Lula deu uma bronca nos membros do PT, desautorizando qualquer especulação sobre nomes de seu futuro ministério. Lula reuniu ontem a Executiva nacional do partido, governadores e prefeitos, além de outros convidados, para traçar os rumos da legenda. Diversos nomes têm circulado no mercado e na imprensa, cotados para os ministérios. Na reunião, o presidente eleito deixou claro que somente ele pode falar sobre isso. A montagem da equipe ministerial de Lula já começou. No entanto, não foram citados nomes durante a reunião.

Lula vai anunciar o seu ministério em bloco, descartando a possibilidade de indicações pontuais. De acordo com o porta-voz André Singer, o novo presidente do Banco Central também deve ser anunciado junto com o ministério, mas ainda não há data oficial para a divulgação da equipe. Se Lula quiser que o novo presidente do BC esteja a postos já no dia 1 de janeiro, ele tem que enviar a indicação ao Senado até o dia 15 de dezembro. Singer disse que a equipe de transição, que até agora tem apenas sete dos 51 nomes, deve estar completa nos próximos dias. O coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, deve adotar um esquema semelhante na divulgação dos novos nomes do grupo.

O presidente eleito imprimiu um tom sério a seu discurso, mas foi otimista em relação ao futuro. Ele comparou sua vitória ao movimento grevista do final da década de 70, tido por ele como “vitorioso”. Além de tranquilizar os setores mais radicais petistas, garantindo que serão ouvidos nas decisões, Lula pediu ainda o reforço da unidade interna da legenda e orientou os petistas a abrir canais de participação nos governos de outros partidos que tenham caminhado com Lula nas eleições, como é o caso de Roberto Requião, no Paraná.

O presidente nacional do PT, José Dirceu, disse que “o PT fará um governo mais amplo que o partido e a esquerda porque isso é o que o Brasil precisa”.

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