Tóquio e Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está considerando o esforço dos partidos da oposição para a realização da CPI Mista dos Correios como uma estratégia para antecipar a disputa eleitoral que ocorrerá ano que vem. Em conversa com o presidente de Portugal, Jorge Sampaio, numa brecha da visita oficial ao Japão, Lula afirmou que, "apesar de o governo ter determinado uma sindicância nos Correios e uma investigação pela Polícia Federal, partidos no Congresso estão insistindo na formação de uma CPI com o objetivo de usar o espaço como palanque e antecipar a disputa eleitoral".
A declaração de Lula foi presenciada pelo governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), que participou do encontro: "Foi a primeira vez que o presidente decidiu tocar no tema da CPI. Até então, ele insistia que discutir o assunto seria mudar o foco da sua visita de negócios ao Japão", disse Rigotto. O tema da CPI também foi abordado pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em linha de raciocínio semelhante à do presidente. Palocci disse que é preciso evitar que a CPI Mista dos Correios se transforme em palanque eleitoral, mas ressaltou que essa era uma preocupação da base aliada, e não do governo.
"Na atuação parlamentar, há um cuidado para que a CPI não se transforme em palanque eleitoral. Penso que a base (de governo) vai fazer isso e está zelando para que os processos de investigação não se transformem em palcos eleitorais porque isso prejudicaria o País", disse Palocci, primeiro ministro da comitiva a comentar a CPI.
Ao falar de novas medidas na área econômica que o governo pretende enviar ao Congresso, Palocci reconheceu que há "conflitos políticos", mas ressaltou que eles não devem paralisar o Congresso. "Não acredito que uma CPI paralise os trabalhos do Congresso. Apesar do calor dessa discussão, as instituições democráticas têm maturidade e têm se fortalecido ao longo do tempo", afirmou.
Palocci afirmou que a CPI não pode e nem vai paralisar a aprovação das leis. E acrescentou que ?não é razoável que o processo político seja tão frágil diante de determinadas investigações". Apesar de ser do PT, Palocci não quis comentar as traições dentro do partido que permitiram a abertura da CPI. Ele disse que iria dar sua opinião dentro do próprio partido. "São questões internas", desconversou Palocci.
Em resposta, o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), negou que a oposição pretenda transformar a CPI num palanque eleitoral, como alegam os governistas. "Não é nossa intenção transformar a CPI num palanque. Seremos rigorosos na indicação dos representantes do PFL, exatamente para que os trabalhos decorram de forma serena, sem contudo perder de vista que o fundamental é desvendar se há de fato corrupção nos Correios, como apontam os indícios", disse Aleluia.