Lula tem de conciliar mercado com avanços sociais, diz cientista

O primeiro grande desafio do candidato à Presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, se eleito, é criar um clima de tranqüilidade para os mercados financeiros e, ao mesmo tempo, avançar nas causas sociais que dominaram o perfil político do partido. Essa é a opinião do professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e cientista político Fábio Wanderley Reis. Na pesquisa de boca-de-urna realizada pelo Ibope e divulgada por volta das 17h, os números apontavam a vitória do candidato petista, com 63% dos votos válidos. Já o candidato à Presidência pelo PSDB ficou com 37% dos votos válidos.

Reis destaca que, para ter sucesso nesse primeiro desafio, Lula terá que anunciar rapidamente os principais integrantes da equipe econômica do seu governo. ?Se os nomes agradarem, principalmente os mercados financeiros internacionais  o clima de maior confiança iniciado no final da semana passada entre os investidores deve se confirmar.? Além disso, segundo o professor, Lula terá de buscar metas mais próximas à linha política do seu partido. ?O grande eleitorado do PT está interessado em soluções para problemas sociais. Se esse objetivo não é perseguido rapidamente, haverá uma frustração, tanto dos eleitores quanto da ala mais esquerda do PT?, afirma Reis.

Ambivalência

O professor da UFMG destaca que o candidato do PT deve eleger-se em uma situação de ambivalência. Há ainda um sentimento de desconfiança por parte dos investidores, principalmente nos mercados internacionais, em relação ao comprometimento de Lula com a estabilidade econômica. ?O momento já é de aversão ao risco e a vitória de um candidato de oposição no Brasil reforça essa situação para o País?, explica Reis.

Por outro lado, segundo ele, esse será um importante teste para o Brasil, que poderá trazer resultados positivos. ?Isso porque, se houver avanços no aspecto econômico e social, tendo um presidente de oposição no comando, o País só tem a ganhar e a democracia estará consolidada.?

Campanha e partidos

Reis avalia que a candidatura de Lula chegará à vitória justamente porque ele conseguiu afastar a imagem de risco que seu nome sempre imprimiu em outras eleições. Segundo ele, a imagem moderada convenceu nomes importantes dos meios financeiros e empresariais.

Já a candidatura de Serra foi marcada pela falta de definição sobre a continuidade ou não do governo Fernando Henrique Cardoso. ?Serra sempre teve divergências em relação à diretriz econômica do atual governo. Não haveria como afastar essa imagem agora. Além disso, a crise de confiança que tomou conta do mercado financeiro brasileiro nos últimos meses não favorecia a candidatura de um nome vinculado ao atual governo?, explica o professor.

Para Reis, a candidatura de Serra foi prejudicada também pela sua imagem, que acabava não agregando novos apoios. ?É uma figura que não tem apelo. Muitos o viam como uma pessoa antipática e, desde o começo da corrida eleitoral, isso ficou claro. Não havia como mudar isso nas últimas semanas.? Ou seja, segundo o professor, o candidato do governo sai derrotado dessas eleições por uma combinação de fatores, que incluem a situação de crise que atravessa o País e as características pessoais de Serra, criando resistências dentro e fora do seu partido.

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