São Paulo
– O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Köhler, declarou ontem, em São Paulo, que o “crescimento econômico é indispensável para conciliar economia sólida com igualdade social”. Após reunião de quase duas horas a portas fechadas com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e com o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, Köhler revelou que o presidente eleito indicou que vai estabelecer a autonomia do Banco Central. “Senti nessa entrevista com o presidente que eles vão apresentar uma demonstração da autonomia do Banco Central.”Ao ser questionado se o presidente eleito o informou se pretende implantar imediatamente a autonomia do BC, Köhler declarou: “Bem, o presidente indicou um certo apoio a essa idéia, mas nós tínhamos muitas coisas para discutir; não focalizamos só a autonomia.” “A autonomia do BC é assunto que deve ser tratado com prioridade”, recomendou. O encontro foi solicitado por Köhler para aproximar o órgão do novo governo. Na sexta-feira, ele já se havia encontrado com Palocci.
A primeira sinalização para um bom entendimento já havia surgido com as declarações de Köhler, que afirmou estar satisfeito com a atual meta de superávit primário do País, de 3 75% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) que o PT se comprometeu a manter. A cúpula do partido se disse “otimista” com as palavras do diretor. Köhler se disse “impressionado” com Lula e o definiu como “um líder do século XXI”. “Isso se vê na postura firme que ele (Lula) tem sobre o combate à fome, a ética política e o respeito aos contratos e instituições”, exaltou.
Ele disse concordar que “a luta contra a fome tem que ser prioridade”. Concordamos que disciplina monetária é indispensável para fazer sua visão virar realidade”, disse o diretor-gerente do FMI. Köhler reiterou estar “impressionado com a clareza que o presidente tem dos obstáculos que terá pela frente e com a firmeza com que pretende combater a corrupção, o que pode criar condições de igualdade e condições estáveis de investimentos no Brasil”.
O diretor-gerente do Fundo destacou “a herança positiva” do presidente Fernando Henrique Cardoso. “As instituições hoje são sólidas e democráticas e mais confiáveis do que em outros países da América Latina”, argumentou. Köhler observou que “há muitos problemas que o novo governo terá que solucionar”. “Mas acho que o próximo governo poderá se basear nas realizações de Cardoso.” Ele disse ter “ficado contente” ao ouvir de Lula que “detectou mudanças no FMI”. “Senti uma dedicação muito forte a se concentrar nessa parte de igualdade social”, anotou. Köhler ressaltou que o dinheiro do superávit primário “é justamente utilizado para o pagamento dos juros dos empréstimos que o Brasil faz no exterior, entre os quais empréstimos junto ao FMI”.