O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirmou ontem que incluirá o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no relatório final, que será apresentado em meados de março. Serraglio observou, no entanto, que se limitará a relatar os depoimentos dados à CPMI, em especial, o do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que teriam apontado o conhecimento de Lula sobre o ?mensalão?, esquema operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, e sobre caixa dois montado pelo PT para, supostamente, pagar os parlamentares aliados. ?Não estou dizendo que vou responsabilizar o presidente por alguma coisa. Mas sempre me perguntam se ele sabia ou não. Vou relatar o que consta: que ele foi avisado do esquema?, afirmou o relator da CPMI dos Correios.
Serraglio informou que o publicitário Duda Mendonça deporá, novamente, na CPMI. O requerimento com a convocação será votado amanhã ou na quinta-feira, mas o testemunho só deverá ocorrer em meados de fevereiro, depois que a comissão tiver acesso aos documentos com a quebra do sigilo bancário e fiscal de Duda Mendonça no exterior. ?Ele (Duda) deu um depoimento incompleto quando esteve na CPMI. Só falou o que queria e, portanto, precisa ser ouvido novamente?, disse ontem o relator da CPMI. Segundo reportagem da Revista Veja, o publicitário teria cinco contas no Bank of America e não apenas uma – a Dusseldorf -, como afirmou em depoimento à CPMI em agosto.
O advogado de Duda Mendonça, Tales Castelo Branco, afirmou ontem que ele tem apenas a conta Dusseldorf. Castelo Branco negou ainda que Duda Mendonça pressione a CPMI para não depor de novo. ?É uma deslavada inverdade?, afirmou. Serraglio afirmou que proporá, no parecer final da CPMI, o indiciamento do publicitário por evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. ?É normal que haja uma indicação para o indiciamento do Duda Mendonça?, afirmou o advogado do publicitário.
Segundo o líder do PT no Senado e presidente da comissão, Delcídio Amaral (MS), três integrantes da CPMI vão aos Estados Unidos na próxima semana. Tentarão ter acesso aos papéis com a quebra do sigilo de Duda Mendonça em Nova York, Washington e Miami.
O Ministério da Justiça e o Itamarati ajudam os integrantes da comissão a entrar em contato com as autoridades norte-americanas para conseguir compartilhar a papelada com a quebra de sigilo do publicitário, que está em poder do Ministério Público (MP), da Polícia Federal (PF) e Departamento de Recuperação de Ativos (DRCI). ?O Duda Mendonça está envolvido num projeto altamente delinqüente e tem de ser convocado outra vez. Ele tem de ser ouvido, processado e, certamente, será condenado por vários crimes?, defendeu ontem o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). ?Apareceram muito mais coisas depois que o Duda depôs. Têm outras contas no exterior e ele recebeu recursos nessas contas desde a década de 90. É preciso fazer um balanço de tudo e pode ser necessário chamá-lo, novamente, para depor?, disse o sub-relator-adjunto da CPI, deputado Maurício Rands (PT-PE).
Valério ameaça abrir sua caixa-preta
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ameaça revelar ao Ministério Público Federal (MPF) tudo o que sabe sobre as transações que teria efetuado com políticos, principalmente, aqueles ligados ao PSDB de Minas Gerais. Domingo, Valério manteve um encontro informal com dois procuradores federais para tentar, pela segunda vez, o benefício da delação premiada. Em troca da redução de pena, ele daria nomes e documentos das operações de caixa dois executadas pelas agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda. Valério pediu até mesmo um encontro com o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que está em férias e só deve se pronunciar após o dia 30. ?O Ministério Público somente se manifestará se provocado?, informou a assessoria de Souza.
Há quem enxergue na movimentação mais uma história de chantagem protagonizada pelo empresário. ?Ele está fazendo uma série de ameaças. Está dizendo que contará tudo o que sabe em troca da delação premiada?, afirmou um senador, pedindo para se manter no anonimato. ?Ele está se sentindo solitário, isolado e sitiado na sua própria casa. Agora, quer atirar para tudo o que é lado.?
Segundo um importante petista, Valério foi advertido de que qualquer dado envolvendo o partido em novas denúncias será respondido com violência. Por isso, se indagado sobre o PT, o empresário estaria disposto a apenas repetir o que disse na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, para despistar o próximo alvo. Por meio de assessores, o empresário disse ontem que só dará qualquer declaração após o término da CPMI.