Lula sabia de tudo e o PT queria R$ 1 bilhão

Foto: Agência Estado

O ex-tesoureiro do PT Silvio Pereira alimenta ainda mais a crise com a denúncia do esquema de R$ 1 bi e envolve Lula.

O ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, um dos personagens centrais do escândalo do mensalão, em entrevista exclusiva que o jornal carioca O Globo publicará hoje, revela que o PT pretendia reunir R$ 1 bilhão no esquema do publicitário Marcos Valério. "O plano era faturar R$ 1 bilhão Eles iam ganhar R$ 1 bilhão. Em quatro áreas: bancos Econômico, Mercantil de Pernambuco e Opportunity, e passivos na agropecuária", revela Pereira, que manteve silêncio sobre o caso desde que o escândalo estourou, há um ano.

Ele se coloca na mesma posição de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, dizendo que ambos cumpriam determinações, sem autonomia. "Eu nunca me reuni com empresários. Sempre fui da organização. Quem mandava? Quem mandava eram Lula, Genoino, Mercadante e Zé Dirceu. Eu não estava à altura desse time." É a primeira vez que um integrante do PT declara que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava a par de todo o esquema de corrupção envolvendo Marcos Valério. "Há cem Marcos Valérios por trás do Marcos Valério", disse, afirmando que o sistema de arrecadação não acabou com o escândalo.

Pereira afirmou que tentou informar detalhes sobre o esquema do valerioduto à nova direção do PT e chegou a telefonar para o presidente do partido, Ricardo Berzoini, para manifestar que estava à disposição. Mas não recebeu nenhuma resposta. Pereira reclamou que não foi ouvido pelo partido. "Se a direção do PT me chamar para ser ouvido, eu vou. Por quê não me chamam? Eu liguei para o Berzoini e disse a ele que gostaria muito de ser ouvido para que minhas informações ajudassem nas investigações internas", afirmou, na entrevista. E acrescentou: "Eu disse a ele e repito agora: estou à disposição. E à disposição mesmo", ressaltou, observando ainda que o partido não se interessava por ele. "Sabe qual o problema? Eu nunca fui ouvido pelo PT. Nunca quiserem saber. Mas deveriam. Ou talvez saibam", afirmou.

O ex-secretário-geral do PT negou as acusações do deputado cassado Roberto Jefferson de que haveria trocas de malas de dinheiro no esquema de propinas pagas para financiar campanhas petistas. "É mentira (sobre as malas de dinheiro denunciadas por Roberto Jefferson). Não houve nenhuma mala de dinheiro. O dinheiro não passa pelo PT. Era um esquema cômodo. Nem traficante usa mais mala de dinheiro. Isso é Al Capone", disse. Mas reiterou a existência do esquema. "Agora o PT deu muito dinheiro ao PTB", afirmou. Ao comentar sobre a origem dos recursos, Pereira não citou nomes, mas comentou que eram de várias companhias. "Empresas. Muitas. Não vou falar nomes. As empresas entre si fraudam as coisas. Às vezes o governo não persegue e é só isso. Elas se associam em consórcios, combinam como vencer (licitações)."

Para Silvio Pereira, o PT tornou-se "refém de Marcos Valério" no esquema de propinas pagas para financiar campanhas petistas. Ele deu detalhes de como funcionava o esquema de pagamentos – bem como da participação de Valério no esquema. "O PT virou refém do Marcos Valério, não tinha mais jeito. O Marcos Valério estabeleceu canais próprios com petistas e com não petistas. Tem muita gente, muitos partidos (estão envolvidos). Só que tudo caiu na nossa conta", afirmou. O ex-secretário-geral informou ainda que Valério tinha medo de represálias por ter participado do esquema, após o caso ter se tornado público. "Quando estourou (o escândalo), nos encontramos com ele. O Marcos Valério disse três coisas: ‘Olha tenho três opções: entregar todo mundo e derrubar a República, ficar quieto e acabar como o PC Farias, ou o meio- termo’. Foi isso", disse Pereira.

Ao detalhar o esquema de pagamento de propinas para financiar campanhas petistas, o ex-secretário-geral do Partido dos Trabalhadores afirmou que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, "perdeu o controle" e começou a usar os recursos captados "para pagar as contas". Silvio Pereira afirmou que Delúbio desconhecia a lista do Banco Rural de Belo Horizonte, na qual estariam relacionados os nomes de parlamentares que receberam dinheiro das contas do empresário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o mensalão. "Da lista do Banco Rural, o Delúbio não sabia não. O que aconteceu é que o Delúbio perdeu o controle. Ele só sabia de três ou quatro deputados do PT. O resto, que recebeu no Banco Rural, não era esquema do Delúbio. Tudo que foi sacado não tinha a ver com o Delúbio."

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