Lula responde a cardeal que o chamou de “caótico”

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O presidente Lula ouve o Hino
Nacional com sua comitiva,
antes do embarque, em Brasília.

Recife – A caminho do Vaticano para o funeral do papa João Paulo II, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ser um ?homem de muita fé?, no aeroporto de Recife, onde o avião presidencial fez uma escala para reabastecer. Lula comentou as declarações feitas na terça-feira pelo cardeal arcebispo do Rio, dom Eusébio Oscar Scheid. O cardeal mostrou profunda insatisfação com o presidente, chamando-o de ?caótico, não católico?.

?Crer em Deus é uma relação muito pessoal, não precisa se tornar pública. Todo mundo sabe que sou um homem de muita fé?, disse o presidente no Aeroporto Internacional do Recife.

?Eu já fui mais freqüentador de igreja do que sou hoje, até porque não tenho mais tempo. Quando vou, eu comungo, não tem nenhum problema. Fui coroinha quando jovem e sou um homem que não preciso provar a cada dia que sou católico ou que creio em Deus?, afirmou Lula.

No dia 5, ao desembarcar em Roma, Dom Eusébio Oscar Scheid mostrou-se incomodado quando um repórter suscitou o nome de Lula durante uma entrevista.

?Não mistura o Lula nesta história! Ele e o Espírito Santo não se entendem bem.?

Mais adiante, criticou posturas específicas do presidente.

?Ele tem atitudes que não são lógicas na nossa fé. O seu relacionamento com os gays. Quem foi que aprovou aquilo tudo? Deixou a todos nós meio perplexos. Essas coisas, confundindo controle de natalidade?, disse Dom Eusébio.

O mal-estar levou dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, a tentar apagar o incêndio, na quarta-feira, em Roma.

?O Lula é um cristão ao seu modo. É um católico ao seu modo. Ele já comungou comigo. Para mim é católico como todos os outros católicos do Brasil?, afirmou o cardeal Hummes, um dos mencionados pela imprensa internacional como possível sucessor de João Paulo II.

O próprio Scheid apresentou uma declaração por escrito sobre a polêmica:

?Quando se apontou a autoridade do nosso presidente sobre o assunto, reagi – o que teria sido melhor não ter feito – que não era o senhor Lula que deveria falar sobre a questão, ?sendo a escolha do papa uma escolha iluminada pelo Espírito Santo?. Não me parecia que o assunto do Espírito Santo fosse da alçada do nosso senhor presidente, dado que nas matérias de fé, de moral e de ética da nossa igreja ele me parecia mais confuso, ambíguo (?caótico?) do que lídimo e claro, isto é, não suficientemente ?católico??.

Presença plural

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que a presença plural de representantes de diversas religiões e correntes políticas na comitiva é uma homenagem de todo o Brasil ao papa João Paulo II e acrescentou que, se o novo papa não for brasileiro, não será problema porque tem certeza que o novo pontífice terá carinho e afeto pelo Brasil.

Comitiva faz culto no vôo para Roma

Brasília – Os religiosos da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que viajou para Roma fizeram um culto ecumênico enquanto sobrevoavam Fernando de Noronha. O culto durou cerca de 20 minutos e foi aberto por dom João Braz Aviz, arcebispo de Brasília, que exultou o caráter inédito da comitiva e fez uma oração em homenagem ao papa João Paulo II. Depois, falou o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Scherer, seguido pelo pastor da Igreja Luterana Rolf Schunemann.

Os religiosos leram o salmo 120, dedicado aos viajantes, e rezaram o Pai Nosso. Em português e árabe, o xeque Armando Hussein Saleh, da Mesquita do Brasil, pediu proteção do Criador ao País e aos seus governantes. O rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, elogiou o ?caráter amplificador e congregador do Pontificado de João Paulo II, um homem de coração enorme, no qual cabiam todos os filhos de Deus?.

Mãe-de-santo

Mas a comitiva brasileira aos funerais do papa João Paulo II chegou desfalcada a Roma. Embora o presidente Lula tenha pretendido levar uma representação brasileira ecumênica, o grupo desembarcou na Itália sem a presença das religiões afro-brasileiras. Primeiro, a mãe-de-santo Areonilthes da Conceição Chagas, a mãe Nitinha, perdeu o vôo que a levaria de São Paulo a Brasília, o que a impediu de embarcar com o restante da comitiva. Ela embarcou para o Rio de Janeiro, de onde esperava pegar um vôo para Recife, onde o avião presidencial fez escala ainda pela manhã. Mas também não conseguiu.

O presidente Lula tomou café da manhã no próprio Aeroporto dos Guararapes ao lado do prefeito do Recife, João Paulo Lima e Silva (PT). O avião presidencial decolou da cidade às 10h25m. A aeronave tem autonomia para chegar em Roma, mas devido ao excesso de movimentação nos aeroportos italianos, o governo brasileiro preferiu abastecer em Recife.

Dois ex-presidentes

O vôo começou com uma mensagem do comandante, dizendo que era uma honra para a Força Aérea Brasileira (FAB) transportar a comitiva, que inclui dois ex-presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney e os atuais presidentes dos três poderes.

Mãe-de-santo Nitinha perde vôo

Rio – Primeiro, foi o atraso. Depois, a falta de uma conta bancária. Por estes dois motivos, a mãe-de-santo Nitinha, de 72 anos, perdeu a oportunidade de acompanhar os funerais de João Paulo II. Ela viajaria com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nitinha perdeu o avião que a levaria do Rio a Brasília e partiu às 21h30 de quarta-feira.

Um dos auxiliares de Nitinha ligou do aeroporto para um funcionário da Presidência da República, que o orientou a comprar uma passagem e embarcar a mãe-de-santo para Recife, onde o avião presidencial faria uma escala técnica. Impossível: mãe Nitinha não tem conta em banco e, portanto, não tem como emitir um cheque. A Presidência só poderia depositar o dinheiro direto na conta da convidada oficial.

Ainda ?muito sentida? com a viagem frustrada, Nitinha vai tirando da mala a roupa que tinha escolhido para a cerimônia: saia e blusa brancas com bordados dourados, anágua de renda, um longo colar de grossas contas amarelas.

Para a cabeça, um pano dourado e brilhante. Também olha o passaporte novinho, que pegou na tarde de quarta-feira na Polícia Federal. ?Sinceramente, minha filha, não sei por que o presidente me escolheu. Ele não é da minha religião. Já esteve aqui, mas foi há muitos anos, não deve nem lembrar de mim. Só pode ter sido algum assessor. Pensei até que fosse trote quando ligaram. Adoro o papa e fiquei muito feliz de ser escolhida. Estou triste com tudo isso?, lamentava Mãe Nitinha, ontem à tarde.

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