Buenos Aires
? O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mantido o mais discreto possível em relação à campanha eleitoral argentina, mas não é por falta de assédio. Pesquisas recentes indicam que Lula recebe entre 60% e 70% de apoio popular dos argentinos. Portanto, aparecer a seu lado, acreditam os assessores de alguns candidatos, poderia render votos na eleição presidencial do dia 27 de abril.Assessores do presidenciável governista Nestor Kirchner chegaram a divulgar que o candidato viajaria para Brasília para tirar uma foto de campanha ao lado de Lula. A informação não só foi desmentida pelo assessor do governo brasileiro, Marco Aurélio Garcia, como caiu no esquecimento na Argentina. De acordo com o assessor de Lula, o presidente assistirá à posse do vencedor das eleições argentinas, no dia 25 de maio, independente do candidato a ser eleito. “Nós estamos contentes que a Argentina esteja dando um passo para aprofundar sua democracia”, disse um diplomático Marco Aurélio, quando perguntado sobre a eleição no país vizinho. .
A aprovação à imagem de Lula teria sido decisiva quando o presidente Eduardo Duhalde optou por mudar o voto sobre Cuba na Comissão de Diretos Humanos da ONU. Da condenação a Cuba, o país passou à abstenção, para acompanhar a tradição brasileira nesta questão. “Votar com o Brasil é definir uma política externa clara e conjunta com nosso principal parceiro”, justificou Kirchner. “Isto é demagogia eleitoral”, criticou Ricardo López Murphy.
Em um encontro com Marco Aurélio Garcia, divulgado pelos jornais argentinos, Duhalde confessou que mudava o voto para tentar dar uma força à campanha de Nestor Kirchner. Curiosamente, no entanto, Kirchner é, nos bastidores, um dos candidatos mais temidos pelo empresariado brasileiro que tem investimentos na Argentina.
Hoje, segundo analistas políticos e econômicos, é difícil saber qual dos cinco principais candidatos é o “ideal” para o Brasil. O ex-presidente Carlos Menem, e agora presidenciável novamente, defende que o Mercosul seja limitado a uma zona de livre comércio, deixando no papel a união aduaneira. A mesma tese é defendida por López Murphy.
No entanto, Kirchner, Adolfo Rodríguez Saá e Elisa Carrió apresentam propostas genéricas e pouco claras sobre o futuro do bloco, que reúne ainda Uruguai e Paraguai. A diferença, porém, é que Kirchner e Carrió acreditam que a saída para a Argentina deve ser encontrada junto com o governo brasileiro.
Menem não tem a mesma certeza e já deixou claro que, caso chegue à Casa Rosada, pretende, a exemplo do Chile, acelerar a negociação de uma zona de livre comércio com o governo norte-americano.
A postura de Menem na questão comercial, e seu apoio inicial à guerra contra o Iraque, valeram ao ex-presidente um cartaz dos inimigos políticos: “Menem no governo, Bush no poder”.
Cinco brigam pelo segundo turno
Buenos Aires – Nada parece resolvido a uma semana da eleição presidencial de 27 de abril na Argentina, e os principais candidatos vão disputar voto a voto com seus rivais para chegar ao segundo turno, no dia 18 de maio.
As pesquisas mostram um inevitável segundo turno pela primeira vez na história eleitoral argentina, onde cinco dos 19 postulantes ainda têm esperanças de participar do segundo turno. Uma das mais recentes pesquisas, da Ipsos-Mora y Araujo, mostra o ex-presidente Carlos Menem na frente com 18,3% das intenções de voto, superando outro peronista, Néstor Kirchner (16,8%), e o centro-direitista Ricardo López Murphy (16,3%), o que mais cresceu nas últimas semanas.
O terceiro peronista é o presidente Adolfo Rodríguez Saá (15,1%). Já a deputada social-cristã Elisa Carrió tem 12,6% das intenções de voto. Entre o primeiro e o quinto lugar, há apenas 5,7 pontos de diferença, o que promete uma eleição muito acirrada.
O equilíbrio entre os candidatos e a indefinição não impediram que Menem assegurasse novamente ontem que ganhará a eleição no primeiro turno, no dia 27 de abril.
Sua imagem de político experiente, que completará o trabalho de uma década no Executivo (1989-99), domina as telas de TV e os cartazes.
Se por um lado Menem tem a maior rejeição entre os 25,5 milhões de eleitores (57% dos entrevistados não votariam nele de maneira nenhuma, segundo Ipsos-Mora y Araujo), por outro tem grandes chances de vencer o pouco carismático Néstor Kirchner.