São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem mudanças na atual ordem econômica para reduzir as barreiras ao crescimento enfrentadas pelos países em desenvolvimento. Ele defendeu ainda a adoção de um programa para ajudar nações pobres, como o Plano Marshall, que reergueu as nações da Europa destruídas pela Segunda Guerra Mundial.
As declarações foram dadas durante discurso de cerca de 15 minutos na cerimônia de inauguração da XI Conferência da Unctad, o organismo das Nações Unidas (ONU) para o comércio e desenvolvimento social. O presidente brasileiro acha que os organismos internacionais precisam ampliar seu foco para socorrer os países pobres. Ele pediu o fim das barreiras comerciais que prejudicam os países em desenvolvimento e sugeriu que seja criada uma nova geografia comercial no mundo, para que se tenha um relacionamento mais justo entre ricos e pobres.
Lula lembrou que nos anos 60, quando foi criada a Unctad, os paises mais pobres tinham uma renda per capita de US$ 212, enquanto que os mais ricos tinham uma renda per capita de US$ 11.400. Hoje, 40 anos depois de criada a Unctad, os países mais pobres têm uma renda per capita de US$ 267, enquanto os mais ricos tem uma renda de US$ 32.400. “Os países pobres estão precisando fazer sacrifícios num momento em que já estão exauridos”, disse Lula, defendendo um novo Plano Marshall para recuperar a economia mundial.
“No final da Segunda Guerra houve o Plano Marshall , que recuperou os paises arrasados pela guerra, que trouxe de volta a prosperidade, os empregos, a paz e o progresso. E agora, estamos na mesma situação, precisando novamente de uma ajuda internacional para as nações em desenvolvimento”, pregou. “A globalização pode ser um instrumento de desenvolvimento, desde que seus benefícios sejam repartidos entre todos”, disse Lula em seu discurso, que durou pouco mais de 15 minutos. “Nos últimos cinco anos, 55 países cresceram menos de 2% ao ano, 23 viram regredir as suas riquezas e somente 16 tiveram crescimento acima de 3%”, afirmou Lula.
Segundo ele, não se pode depender somente do comércio para alcançar o desenvolvimento mundial. “É preciso investir em infra-estrutura”, afirmou Lula, lembrando que as últimas “receitas” econômicas subestimaram o papel do investimento público no desenvolvimento, além de exigirem “sacrifícios adicionais” de países “exauridos”.
Plano Marshall salvou a Europa
Rio
– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou em um de seus discursos na abertura da reunião da Unctad, em São Paulo, a necessidade de os países ricos ajudarem as nações pobres com um programa semelhante ao Plano Marshall, adotado no fim da Segunda Guerra Mundial. Mas o que foi o Plano Marshall? Em junho de 1947, dois anos após o fim da guerra, o general George Catlett Marshall (1880-1959), comandante em chefe do Exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, herói nacional, feito secretário de Estado do presidente Truman em janeiro daquele ano, proferiu um histórico discurso, em Harvard, anunciando as linhas gerais do que ficaria conhecido como o plano que salvou a Europa Ocidental da catástrofe e aproximou os países da região o capitalismo americano.O Plano resultou em doações para países europeus, entre 1948 e 1952, que somaram cerca de US$ 150 bilhões em dinheiro de hoje. O sucesso foi absoluto em reconstruir e reativar a economia européia, de cuja prosperidade dependia a própria economia americana. Estava em jogo também, conter o avanço do comunismo na Europa.
Os Estados Unidos investiram maciçamente na Europa ocidental para barrar a expansão comunista e assegurar sua hegemonia política na região. Washington forneceu matérias-primas, produtos e capital, na forma de créditos e doações. Em contrapartida, o mercado europeu evitou impor restrições à atividade das empresas americanas.
Comércio justo garante os direitos
São Paulo – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, abriu a cerimônia de inauguração da XI conferência da Unctad falando sobre a importância do desenvolvimento comercial no mundo. Segundo o secretário da ONU, isso é preciso ocorrer para diminuir a violação dos direitos de muitos povos. Ele disse que os países já dispõem de tecnologia e experiência e consenso sobre metas. “Falta agora coerência. As políticas não podem dar com uma mão e tirar com a outra”, acrescentou Annan, dizendo que o países precisam abrir as “porteiras?? para o comércio, numa crítica velada aos países desenvolvidos, que insistem em manter as atuais regras draconianas que os beneficiam.
Ele condenou atos discriminatórios e a falta de um regime de desenvolvimento amigável. Annan disse que espera uma conclusão com êxito, na conferência da Unctad, da rodada de Doha. O secretário disse que é preciso aproveitar as oportunidades do “comércio sul-sul??, em referência às relações comerciais dos países em desenvolvimento. Annan exaltou o brasileiro Sérgio Viera de Mello, morto em um atentado no Iraque. Ele disse que o embaixador morreu junto com 21 colegas e amigos fazendo o possível para ajudar o povo iraquiano. Annan, que pediu um minuto de silêncio aos presentes à cerimônia, disse que é preciso agora pensar nos sobreviventes do Iraque, que foram feridos física e psicologicamente.
Annan terminou o seu discurso fazendo uma homenagem ao embaixador Rubens Ricupero, que deixará a direção da Unctad após nove anos. Ele disse que Ricupero fez um trabalho “impressionante?? e “audacioso??.
O diretor-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, Rubens Ricupero, destacou a importância dos africanos para a formação do Brasil. Em discurso na abertura da XI reunião da Unctad, em São Paulo, Ricupero deu ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, uma bandeira da escola de samba carioca Mangueira, com o símbolo das Nações Unidas estampado em seu verso. Ricupero afirmou que o presente representava, além de uma homenagem aos africanos, uma celebração à criatividade de todos os povos do Terceiro Mundo.