Washington
– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, “generosidade” no tratamento econômico com as nações mais pobres, incluindo o Brasil. Essa “generosidade” envolveria ações concretas para viabilizar a “integração física” da América do Sul e da América Latina.Lula e Bush se encontraram na Casa Branca, em Washington, onde o presidente brasileiro disse que, na negociação entre duas ou mais nações, “não podem prevalecer os interesses de um setor econômico; tem de ser dos dois”.
Segundo Lula, ele fez a Bush uma analogia entre o boxe e a política econômica para justificar a ajuda que os mais ricos têm de dispensar aos mais pobres. “No boxe, o boxeador que nocauteia o outro tem de ter a dignidade de ir lá e abraçar o outro. Na política econômica é a mesma coisa. Os mais fortes precisam ter generosidade com os mais fracos.”
A integração física buscada pelo Brasil, segundo Lula, não pode ser “sentimentalista” ou ” paternalista”. “Não teremos integração física sem portos, estradas, rodovias e vôos diários para os homens de negócio”, afirmou. Para ele, os EUA teriam interesse em motivar essa integração porque as empresas norte-americanas participariam de obras de infra-estrutura. No total, Estados Unidos e Brasil assinaram sete acordos destinados a fortalecer suas relações bilaterais, incluindo a criação de um mecanismo para consultas regulares de alto nível.
Bush e Lula também concordaram em concluir as negociações sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) até janeiro de 2005. O anúncio foi feito mesmo com as restrições brasileiras sobre o prazo, defendido pelos EUA. Lula afirmou que “temos de quebrar todas as barreiras que existem”, com “paciência e perseverança”. Para ele, é preciso que os líderes dos países discutam mais. Além disso, defendeu a adoção de um “ponto de vista político”, e não apenas técnico, para prosseguir as negociações na Alca.
“Eu acho que o Brasil é e pode continuar sendo um grande parceiro dos EUA. Temos muitas coisas em comum”, disse Lula ao lado de Bush. “Eu acredito que podemos surpreender o mundo. Espero que em breve o presidente Bush possa ir ao Brasil, para ver que o Brasil além de carnaval, além do futebol, tem coisas maravilhosas”, acrescentou o presidente, arrancando sorrisos do anfitrião.
Bush disse que é uma honra receber Lula, “presidente de um país amigo, o Brasil”. O presidente americano ressaltou que esta é a terceira reunião entre os dois, já que eles se encontraram em dezembro, na própria Casa Branca, e em 1º de junho, no encontro do G-8, na França. Lula acrescentou estar “convencido” de que é possível alcançar a “mais perfeita relação entre EUA e Brasil”. Lula também deixou claro a Bush que o Brasil busca uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Bush não fez nenhuma afirmação para concretizar o desejo.
Alca: Lula foi, viu e recuou
Brasília
– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá que pagar um preço político alto por ter assumido o compromisso de levar adiante as negociações para que a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) saia até janeiro de 2005. A decisão de Lula pode ser considerada um recuo, pois sua intenção sempre foi de estender o debate sobre a Alca, por entender que a sociedade brasileira não estaria bem informada sobre os efeitos do tratado. O governo brasileiro avaliava o prazo fixado para o término das conversas como extremamente curto.Lula deixou Washington de mãos vazias, já que seu colega americano, George W. Bush, não apoiou o ingresso do Brasil como membro permanente do conselho de segurança da ONU. Mas fez o que Bush queria em relação à Alca: sem adiamentos, o acordo deve ser fechado dentro do prazo preestabelecido.
Se quiser evitar problemas internos e não ser responsabilizado por um dos maiores fracassos comerciais da história, Lula terá que correr contra o tempo. Avançar nos debates dentro do Congresso Nacional, ouvir a sociedade civil e, ao final do processo, ter coragem para dizer não, caso a Alca não atenda aos interesses do Brasil.
Grupo vai estimular crescimento
Washington – O Ministro da Fazenda Antônio Palocci e o Secretário do Tesouro John Snow compartilharam um compromisso de acelerar o crescimento econômico em seus países, com o objetivo de criar empregos, melhorar o padrão de vida e combater a pobreza. O raciocínio é que maior crescimento nas economias dos dois países trará importantes benefícios não só para o Brasil, como também para os Estados Unidos e ainda para o resto do continente. “Os dois ministros concordaram que seria oportuno aprofundar o diálogo e a reflexão sobre estratégias de crescimento, de forma a compartilhar experiências e melhores práticas para enfrentar os desafios comuns a economias com as dimensões daquelas de seus países e com um complexo sistema federativo”, informou um comunicado oficial do Ministério da Fazenda, divulgado no início da tarde de ontem, em Brasília.
Nesse contexto, o Ministro Palocci e o Secretário Snow estão estabelecendo um Grupo de Trabalho para o Crescimento, organizado para examinar tópicos de política econômica essenciais para aumentar o crescimento da produtividade nos dois países. Eles já concordaram num conjunto inicial de tópicos para discussão: política fiscal e reforma tributária, redução dos entraves para a criação e expansão de pequenas e médias empresas, aumento do investimento e do crédito, promoção do comércio, desenvolvimento da infra-estrutura e fortalecimento da concorrência doméstica.
Representantes do setor privado e da sociedade em geral poderão ser convidados para participar das discussões do grupo de trabalho. O subsecretário para Assuntos Internacionais do Tesouro americano, John Taylor, presidirá a representação dos Estados Unidos no grupo. Do lado brasileiro, a representação será presidida pelos secretários do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e de Política Econômica, Marcos Lisboa.
A criação de um grupo de trabalho bilateral entre Estados Unidos e Brasil voltado para o estímulo ao crescimento ocorre no momento em que aumentaram as insatisfações dentro do País com o rumo da economia brasileira diante de indicadores que mostram uma desaceleração da atividade econômica e aumento do desemprego.
O anúncio da formação do grupo é mais uma iniciativa do governo brasileiro na tentativa de sinalizar que, apesar do arrocho monetário, está empenhado em criar as bases para a retomada do crescimento. A divulgação de uma “agenda de desenvolvimento”, na segunda-feira, se insere nesse contexto. Nos próximos dias, o governo deve anunciar um pacote de medidas de incentivo ao crédito.