Lula passa um zíper e fecha a boca

Brasília – Os dias de longos e freqüentes discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegaram ao fim. Os assessores especiais da Presidência fizeram uma avaliação que Lula vem fazendo muitos discursos desde a posse e recomendaram a redução no número de declarações do presidente. A recomendação foi acatada pelo presidente, segundo confirmou a assessoria do Planalto. Na manhã, pela primeira vez em várias semanas, o presidente não discursou durante uma solenidade no Palácio do Planalto.

O evento foi organizado para lançar o Programa de Revitalização das Ferrovias, no qual a iniciativa privada promete investir 1,2 bilhão de reais. O governo entra com uma linha de financiamento do BNDES e a promessa de mais dinheiro para recuperar a malha ferroviária no Orçamento de 2004. A cerimônia de ontem foi excepcionalmente encerrada após o discurso do ministro dos Transportes, Anderson Adauto. O cerimonial do Palácio apenas agradeceu a presença de todos em nome de Lula e encerrou o evento.

Segundo fontes do Palácio, apesar de ter acatado a recomendação de sua assessoria, o presidente decidiu não discursar poucos minutos antes do início da solenidade. A reunião de Lula com seus assessores especiais aconteceu no final de semana passado. Participaram dela o secretário de imprensa e divulgação? Ricardo Kotscho; o secretário de comunicação e planejamento estratégico, Luiz Gushiken; o chefe de gabinete Gilberto Carvalho e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Os discursos que acontecerem tendem também a ser mais enxutos. Na quarta-feira, Lula discursou apenas 15 minutos na cidade de Balsas, no Maranhão. Normalmente, em viagens, Lula chega a discursar de 40 minutos a uma hora. Apesar dos discursos freqüentes, Lula ainda não concedeu nenhuma entrevista exclusiva à jornalistas após sua posse. Segundo a assessoria do presidente, essas entrevistas devem começar a acontecer no início do próximo mês.

Neste final de semana, a expectativa é que o presidente conceda sua primeira entrevista coletiva à imprensa em Cuzco, no Peru, para onde viajou para participar de reunião do Grupo do Rio. A entrevista está agendada para acontecer amanhã, mas ainda não foi confirmada pela assessoria da Presidência.

Outros ministros e até o vice-presidente da República, José Alencar, resolveram aderir ao silêncio. Ao ser abordado por jornalistas no final da cerimônia de ontem no Palácio, Dirceu fez apenas um sinal com a mão, demonstrando que tinha passado um zíper na boca.

Já o vice-presidente, que fez questão de criticar a decisão do Copom desta semana, que manteve a taxa básica de juros, disse apenas que não faria declarações pois estaria assumindo a Presidência com a viagem de Lula.

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