Rio – O ex-presidente doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e economista Carlos Lessa, negou ontem durante depoimento aos procuradores do Ministério Público Federal que, em qualquer momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha pedido a ele que escondesse a existência de corrupção no processo de privatização do setor elétrico.

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Ao discursar em Jaguaré (ES) no dia 24 de fevereiro, o presidente Lula contou ter orientado, no início do governo, um "alto companheiro" a não relatar publicamente "processos de corrupção" que ele encontrara na instituição, cuja direção acabara de assumir. Segundo o líder do PT, senador Delcidio Amaral (MS), Lula manteve o sigilo sobre possível processo de corrupção a fim de não afugentar os investidores estrangeiros e nem criar um clima de desconfiança em relação ao governo do PT, que se iniciava naquele momento.

Em seu depoimento, Lessa disse acreditar que o presidente não estivesse se referindo a ele. "O presidente se referiu a um companheiro. Não sei se ele se referia a companheiro de governo ou a companheiro de partido. Tive a satisfação de ter sido companheiro de governo do presidente, mas não de partido, tendo em vista que pertenço ao PMDB." Carlos Lessa foi convocado pelo MP a depor como testemunha no processo que desde julho de 2004 investiga a privatização da empresa Eletropaulo.

O economista também afirmou aos procuradores não ter dito ao presidente Lula que o banco estava em processo falimentar. "Não disse e nunca poderia dizer que o BNDES estivesse na iminência ou processo falimentar, pois isso seria a mesma coisa que afirmar que o governo estaria falindo, uma vez que o governo é o avalista da instituição. Também não disse que havia identificado sinais de corrupção, pois se os tivesse identificado teria tomado as medidas cabíveis, até porque, como homem público, estaria obrigado por lei a fazê-lo."

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Lessa destacou, entretanto, que relatou ao presidente ter encontrado o BNDES "desviado de sua função principal. "Eu disse ao presidente ter encontrado diversos ?esqueletos? na instituição e que o banco havia sido desviado de sua função, ao ser transformado de banco de fomento em banco de investimento, ao atuar de forma açodada no processo de privatização."

As declarações do presidente da República se transformaram na mais recente crise enfrentada pelo Palácio do Planalto, porque o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentiu-se ofendido e pediu para Lula se retratar. No dia seguinte, Lula afirmou que se tratou apenas de um discurso "atravessado", que não merecia ser levado a sério. Mas o PSDB levou a sério e protocolou uma queixa-crime contra Lula. A iniciativa depende de análise do presidente da Câmara, Severino Cavalcante, para ir adiante. 

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