FHC em Madri: recados e elogios para Lula. |
Madri – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem, em Madri, Espanha que o governo Luiz Inácio Lula da Silva não pode ?exagerar na dose? da manutenção da política econômica, praticada, segundo ele, nos moldes semelhantes aos dos oito anos do governo tucano.
Em entrevista concedida à rádio Eldorado, FHC destacou que é preciso saber qual o momento necessário para aumentar a taxa de juros, mas também reconhecer quando deve ser promovida a redução do problema que ele próprio teria enfrentado durante o seu mandato. ?Precisa tomar cuidado para não errar na dose. Política econômica não são receitas. A responsabilidade diante do País obriga que haja um certo controle do gasto, que haja um superávit, porque nós temos dívida. Que, eventualmente, por causa da inflação, se eleve a taxa de juros. Mas eu repito: eventualmente, porque a gente perde a oportunidade de baixá-la. Eu sei porque isso também aconteceu comigo?, opinou FHC.
O ex-presidente elogiou o atual momento de convergência sobre questões básicas pelo qual estaria passando o Brasil. ?No geral, a equipe econômica tem seguido as linhas do que fazíamos quando estávamos na Presidência?, acrescentou.
Retratação de Lula
Fernando Henrique manifestou que não há a necessidade de Lula se retratar de maneira oficial em relação ao discurso feito no dia 24, em Jaguaré, no Estado do Espírito Santo, em que o presidente disse que evitou divulgar supostos casos de corrupção do governo FHC para não ?achincalhar? a gestão anterior.
O ex-governante destacou que apenas gostaria que Lula reconhecesse que teria cometido um equívoco. ?Dado o tipo de relacionamento que o presidente Lula e eu sempre tivemos, espero que ele entenda que é muito mais fácil dar a entender que exagerou, que foi para um caminho que não era o melhor para o País. Isso ajudaria que o País visse que tem um presidente que, além de ter a legitimidade do voto, tem a capacidade de dizer: Bom, eu me equivoquei?, comentou FHC. ?De minha parte, eu disse que, se ele tiver algum caso real de corrupção, tem obrigação de dizer qual é. Eu preciso saber e sou interessado em esclarecer?, adicionou.
PSDB na oposição
O ex-presidente da República reconheceu que o PSDB teve dificuldades de se posicionar na oposição do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas justificou que isso ocorreu em virtude do tempo em que o partido permaneceu no poder. ?O PSDB foi governo de tantos anos e realmente teve algumas dificuldades de se posicionar, mas, agora, está muito bem posicionado. Não é uma posição destrutiva, não é uma oposição para derrubar o que é bom para o Brasil, mas é uma posição para cobrar as coisas com muita clareza e com muita ênfase?, afirmou. ?O PSDB acertou agora o ponto.?
Fernando Henrique Cardoso está na capital espanhola, onde participou da Cúpula Internacional sobre Democracia, Terrorismo e Segurança, patrocinada pelo Clube de Madri, que é presidida por ele e reúne vários chefes de Estado e representantes de mais de 50 países. O grupo cobra da Organização das Nações Unidas (ONU) uma definição internacional de terrorismo.