Lula: miséria ameaça a democracia

Santiago

– O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem depois de uma longa reunião com o presidente do Chile, Ricardo Lagos, que o seu compromisso é dar prioridade ao combate à pobreza e que a desigualdade é uma ameaça à democracia. “Não há democracia política que resista a tão dramáticas diferenças sociais. O agravamento das desigualdades é um convite às soluções de força”, discursou. Pouco antes, Lula lembrou, como fez na Argentina, que o Brasil não pode continuar a ser uma das dez maiores economias do mundo e conviver com “dezenas de milhões de brasileiros passando fome”.

O secretário-geral do PT, Luiz Dulci, afirmou que ele, ao falar em “soluções de força”, fez uma “referência conceitual”, mas não se referiu, especificamente, a regimes autoritários e ditaduras. Lula reiterou a necessidade de o Brasil reduzir a vulnerabilidade externa da economia e a intenção de que o País tenha autonomia para “controlar as principais decisões econômicas”. “Isso não deve ser confundido com um voluntarismo ingênuo, que desconhece a existência de constrangimentos internacionais e a interdependência que caracteriza o mundo de hoje”, ressaltou o presidente eleito.

O futuro governo, disse, adotará um modelo de desenvolvimento “dando ênfase à produção e não à especulação”. Lagos, no discurso, afirmou que “o mundo tem responsabilidade de confiar no Brasil porque o Brasil deu confiança ao mundo com uma transição exemplar”. Ele, que é do Partido Socialista, lembrou que conheceu Lula há 11 anos e que o presidente terá pela frente “o desafio de articular crescimento e mais justiça social”.

Mercosul

Lula chegou ao Chile determinado a arrancar do presidente chileno, Ricardo Lagos, um compromisso com o Mercosul. Mas, o mais liberado mercado latino-americano só tem olhos no momento para a negociação de um acordo bilateral de comércio com os Estados Unidos. Lula encontrou-se a sós com Lagos, por quase uma hora, no Palácio La Moneda, e equipes dos dois países fizeram uma reunião de trabalho. Ainda assim, não houve nada para anunciar. O discurso do presidente eleito caracterizou um apelo à superação de dificuldades na integração do Chile ao Mercosul, sublinhando que avançar no fortalecimento regional depende de vontade.

O Chile é um país centrado no comércio internacional, com tarifa média de importação de apenas 6 por cento, enquanto o Mercosul – que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – ainda trabalha com 15%. O Chile é associado ao Mercosul, mas para tornar-se membro pleno teria que seguir a tarifa externa comum do bloco, retrocedendo na abertura de seu mercado.

Enquanto Lula visita o La Moneda, uma equipe de 100 negociadores chilenos está em Washington acertando detalhes do acordo iminente com os Estados Unidos. A expectativa é que os termos finais sejam acertados ainda esta semana. O interesse também é do governo norte-americano. O presidente George W.Bush teria avisado a Lagos que pendências podem ser resolvidas por telefone entre os dois.

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