Brasília – A tensão permanente entre os dois principais ministros do governo Lula – José Dirceu, da Casa Civil, e Antônio Palocci, da Fazenda – agora foi institucionalizada e ganhou um novo ingrediente político com a criação da Câmara de Desenvolvimento Econômico. A reunião de estréia da nova câmara, inchada com a presença de 17 ministros, não deixa dúvidas de que fortes emoções estão por vir. José Dirceu se vangloria do fato de deter o comando do PT. Como o comando do partido indispôs-se desde o início com a política econômica do governo, Palocci não estranhou a opção por Dirceu para comandar a Câmara de Desenvolvimento.
Palocci só estranhou a publicação no Diário Oficial da nomeação da câmara sem que tivesse sido avisado. O ministro da Fazenda acompanhou de perto a reforma das câmaras governamentais e até acabou concordando com ela. Mas achava que teria tempo para preparar alguns de seus aliados para a novidade. Foi surpreendido em plena articulação e assim ficou sem resposta para a cobrança feita pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, com quem mantém uma aliança circunstancial: “Palocci, quer dizer que tenho novo chefe e ninguém me avisa nada?”.
Furlan, vira e mexe, torce o nariz para a política de Palocci. Mas parou de questioná-la quando surgiu um perigoso inimigo comum: Carlos Lessa, o rebelde presidente do BNDES. Lessa desafia a autoridade de Furlan e conspira contra Palocci. O presidente do BNDES é uma espécie de lua-preta dos petistas que hostilizam Palocci, como o próprio presidente do partido, José Genoino, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e o discreto Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). José Dirceu é seu hospedeiro.
Lessa, a rigor, não é forte e perigoso como parece. Mas, como virou o principal escudo dos críticos da política econômica, sua presença no governo tornou-se um imperativo: se ele cair, aí a guerra fica feia. A preocupação de Lula é a de sempre: manter empatada a disputa entre Dirceu e Palocci, se possível em zero a zero. Para evitar novos confrontos com Furlan, Lessa, do BNDES, ficou fora da Câmara de Desenvolvimento Econômico, entregue a Dirceu.