Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou em almoço com deputados do PMDB a importância do partido na base aliada do governo e pediu "calma e consciência" em relação ao que a legenda está fazendo. "Eu preciso do PMDB no governo", disse Lula, segundo deputados presentes ao encontro.
Para deputados, o almoço, no entanto, não deve alterar a posição dos parlamentares contrários à permanência do PMDB na base aliada. "Pelo contrário, quem pensava que era governo por causa da pressão, sentiu-se à vontade com o discurso do presidente aceitando qualquer decisão", disse o deputado Eliseu Padilha (RS). "Ficou clara a decisão dele (Lula) de respeitar a posição do PMDB", afirmou o parlamentar.
O presidente conseguiu reunir 64 dos 76 deputados do PMDB no almoço oferecido pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, mas não conseguiu dissuadir os peemedebistas da idéia de manter a convenção nacional convocada para decidir, no dia 12, se o partido deve ou não romper com o governo. O presidente do Senado, José Sarney, também participou do encontro.
Ameaça
O PMDB ameaça deixar a base do governo. No caso da convenção, Lula deixou claro que, seja qual for a decisão dos peemedebistas, quer contar com o partido para a governabilidade do País. "Sempre chamaremos o PMDB de companheiro, mesmo na oposição", teria dito Lula, aplaudido duas vezes durante o almoço.
O presidente voltou a defender uma aliança entre PT e PMDB nas eleições estaduais de 2006, como havia falado no encontro com senadores peemedebistas na sexta-feira. Lula também reafirmou que não se opõe caso o PMDB opte por lançar um nome próprio à Presidência da República.
De acordo com os deputados, o discurso do presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), pautou o almoço. Temer ressaltou a importância da convenção do partido em dezembro e disse que a governabilidade não estará "ameaçada" caso a legenda saia do governo. O deputado Geddel Vieira Lima (BA) chegou a aplaudir o discurso de Temer, mas foi contido pelo próprio presidente da legenda.
Elogios
Temer ainda aproveitou para elogiar Lula no almoço. "Lula é a síntese do Brasil vencedor", afirmou. Na saída, Temer disse que o encontro foi positivo e afirmou que a fala de Lula foi de uma "clareza ímpar". "Ele foi claro de que precisa do PMDB", disse.
No cardápio, parrilhada, rabada, polenta e muita discussão política. O ministro das Comunicações, Eunicio Oliveira, anfitrião, abriu as conversas. Falaram ainda, além de Lula e Temer, os líderes do PMDB, José Borba, do governo, Professor Luizinho (PT-SP), e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.
Aldo, aliás, negou que o governo esteja fraco ao ceder mais espaço para partidos da base. "O governo precisa do PMDB porque precisa de aliados. O Brasil precisa ser governado por uma união de forças partidárias", afirmou o ministro. "O povo brasileiro não deu a nenhum partido a hegemonia absoluta. Os partidos receberam a lição da pluralidade", ressaltou.
Orçamento preocupa Planalto
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem dos aliados, da equipe econômica do governo, do presidente e do relator-geral da Comissão Mista de Orçamento soluções para os principais problemas que estão dificultando a votação do Orçamento Geral da União para 2005.
Segundo o presidente da comissão, deputado Paulo Bernardo (PT-PR), o presidente colocou à disposição do relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), funcionários dos ministérios da Fazenda e do Planejamento para ajudá-lo a encontrar fontes de recursos para fechar o Orçamento.
"Apresentamos ao presidente a situação em que está a tramitação do Orçamento e colocamos os principais problemas que precisam ser resolvidos, como o ressarcimento das exportações, que os estados estão reivindicando; o problema do salário mínimo, além dos problemas de ordem prática para fazer a votação com o prazo exíguo", relatou Paulo Bernardo, que participou de manhã de reunião com o presidente e os ministros Antônio Palocci, da Fazenda; José Dirceu, da Casa Civil; e Nelson Machado, interino do Planejamento.
Peemedebistas divergem
A tese do presidente estadual do PMDB, deputado Dobrandino Gustavo da Silva, de reestruturar o partido através da intervenção e mesmo dissolução de diretórios onde o desempenho eleitoral foi ruim em conseqüencia do que qualificou de "falta de ação política", não tem o apoio do secretário-geral da comissão executiva, Luiz Cláudio Romanelli.
Para ele, trata-se de uma questão "interna corporis" que deve ser discutida no âmbito exclusivo do partido e não publicamente, através da imprensa: "A conversa deve ser franca e objetiva, mas entre os companheiros de partido". Para ele, uma eventual reestruturação deve passar pela avaliação dos resultados eleitorais e se para eles contribuíram atitudes de má prática política por parte dos dirigentes partidários. Isso, segundo ele, não ocorreu em Curitiba nem em Ponta Grossa, dois casos citados especificamente por Dobrandino e onde o PMDB se aliou ao PT já no primeiro turno.
"Se fôssemos nos orientar por esse critério, também poderíamos invocar o exemplo de Foz do Iguaçu (reduto de Dobrandino), onde a derrota talvez possa ser atribuída ao fato de não termos nos aliado ao PT", observou Romanelli. (Sandra C. Pacheco)