Washington – Ainda sob o impacto dos frustrantes resultados da reunião da Cúpula do Milênio, encerrada quarta-feira sem um acordo sobre como renovar a Organização das Nações Unidas e prepará-la para os desafios do século 21, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, abriu ontem o debate da 60.ª Assembléia Geral da ONU reafirmando a importância de uma ampla reforma que tenha como eixo a expansão do Conselho de Segurança.
O Grupo dos Quatro, formado pelo Brasil, Alemanha, Japão e Índia, anunciaram que reapresentarão projeto de resolução sobre a expansão do conselho. Contudo, são as controvérsias sobre os programas nucleares do Irã e da Coréia do Norte que devem dominar a assembléia, ao menos em seus meses iniciais. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, deixou claro na semana passada que o clima não é favorável para esse debate, chamando de "real desgraça" a exclusão do desarmamento e não-proliferação da declaração política da cúpula, por falta de acordo entre os países.
"A reforma do Conselho de Segurança destaca-se como peça central do processo em que estamos envolvidos", afirmou o chanceler brasileiro. A necessidade de fazer com que o Conselho de Segurança se torne mais representativo e democrático é reconhecida pela imensa maioria dos estados-membros", afirmou, num discurso em que reconheceu que o documento final da cúpula "certamente ficou aquém das nossas ambições".
Ele pregou também o fortalecimento da assembléia geral, e não dos poderes do secretário-geral, como querem os EUA e outros países com maior capacidade de influência. Exasperado com as notícias da imprensa brasileira que apresentaram como derrota o insucesso da estratégia conjunta do Brasil, Japão, Índia e Alemanha de forçar uma votação sobre a ampliação do Conselho de Segurança que assegure aos quatro países cadeiras permanentes no órgão, o chanceler disse que esses relatos refletem o incômodo que causa em setores da sociedade o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser o primeiro líder brasileiro capaz de influenciar os destinos do mundo.
Amorim disse que "o balanço da presença de Lula (na Cúpula do Milênio) é uma reafirmação de uma liderança mundial, coisa que o Brasil nunca teve; teve intelectuais, teve pessoas respeitadas por outras características". O ministro citou a capacidade de Lula de convocar a Ação contra a Fome, que reuniu alguns chefes de governo, e o fato de ter merecido uma citação esta semana no The New York Times como prova de que é o primeiro presidente brasileiro de projeção internacional. "Ele é uma liderança mundial. Dá notícia no The New York Times. Isso incomoda. Como dizia o Tom Jobim, quem faz sucesso no exterior, incomoda. Um torneiro mecânico que perdeu um dedo numa máquina incomoda mais ainda."