Recife
– Empolgado com a disposição demonstrada por empresários e setores da sociedade civil de ajudar o próximo governo, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que quer pôr em prática durante seus quatro anos de mandato um “mutirão de solidariedade”.Lula também dedicou seu tempo no Estado para fazer acertos políticos. Ele visitou o governador reeleito Jarbas Vasconcelos (PMDB), que promete fazer oposição ao governo federal a partir do ano que vem. “Disse ao Jarbas que Pernambuco não sofrerá um milésimo de discriminação porque o governador não é do PT”, afirmou.
Pela manhã, Lula visitou o ex-governador Miguel Arraes, com quem discutiu a participação do PSB em seu governo. Pelo menos oficialmente, a palavra “cargos” não fez parte da conversa. “Minha divergência política com governadores de qualquer Estado não pode significar nenhum prejuízo aos milhões de brasileiros que esperam de nós trabalho e soluções para os problemas do Brasil.” Na segunda-feira, em Araxá (MG), Lula terá um novo encontro com adversários políticos: a reunião será com governadores eleitos pelo PSDB.
Participação
Tentando deixar claro que combater os problemas do País “não é coisa fácil”, Lula disse que, a partir do dia 1.º de janeiro, o trabalho não será apenas do presidente e de seus ministros, mas também da população. “Nunca vi na minha vida um povo com tanta vontade de participar”, afirmou o presidente eleito, num breve discurso que fez na Prefeitura de Recife.
“As pessoas encostam perto de mim e não pedem nada, apenas dizem ?eu quero ajudar, ser voluntário, trabalhar?, e é isto que vamos fazer: um mutirão de solidariedade, para provar que é possível melhorar a vida de nosso povo e que a gente possa reconstruir o País”, completou Lula.
O tom emotivo tomou conta de Lula durante a primeira viagem ao Estado após as eleições. “Eu farei todo sacrifício que estiver ao meu alcance para não envergonhar nenhum brasileiro”, disse o presidente eleito. “Essa visita tem um pouco de compromisso sentimental porque vou rever minha terra.” Lula nasceu no distrito de Caetés, em Garanhuns, hoje emancipado. O local fez parte do seu roteiro de viagem.
Números apontam distorções
Brasília
(AE) – Os relatórios produzidos pela equipe de transição do novo governo apontarão distorções muito grandes entre a realidade que os petistas encontram e a apresentada pela equipe do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um dos grandes problemas das duas equipes será em relação ao Orçamento. O governador do Acre, Jorge Viana, reeleito pelo PT, classificou o orçamento preparado pela atual equipe econômica como ?quase inadministrável?.Para Viana, o clima de ?lua-de-mel? que existe hoje entre as duas equipes de transição certamente não vai perdurar depois que o PT apresentar o diagnóstico da herança que está recebendo. O governador esteve ontem no Palácio do Planalto, para convidar Fernando Henrique para inaugurar a estrada que dará acesso ao Oceano Pacífico, em meados de dezembro. O convite teria sido aceito, de acordo com Viana. “Pode ser o fim da ?lua de mel? e o começo de uma outra relação, apesar de durante a transição tudo ter corrido muito bem”, disse Viana.
Segundo o governador, “a partir do balanço do PT, vai acabar esta impressão equivocada de que estão (integrantes do atual governo) querendo passar para a população que está tudo bem no País, que as contas e as coisas estão todas em ordem”. E ressalvou: “Vamos mostrar que apesar de estarem querendo mostrar que estão nos entregando um presente, quem está recebendo dirá que não se trata de um presente, mas de um problema e um grande problema”.
Para Viana, isso não significa que haverá ?rompimento? entre os dois governos, mesmo porque os dois presidentes têm mantido um diálogo muito bom. “Mas, com certeza, vamos ter desencontros de opiniões sobre cada questão”, ponderou o governador, que deu as declarações depois de se reunir com Fernando Henrique. O governador garantiu que o presidente considerou ?normal? este ?desencontro de pontos de vista? e teria dito que deve haver compreensão sobre estes problemas. “Não é que a ?lua-de-mel? vá acabar, mas o relacionamento vai mudar”, filosofou.
