O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou justamente a platéia que menos esperava dele: o establishment internacional, isto é, banqueiros, empresários e líderes dos países ricos. No maior encontro com empresários internacionais já organizado pelo governo, na quinta-feira, em Genebra, Andreas Andreas Knoepfel, da Jet Aviation Management AG, empresa de manutenção de aviões que formou uma joint-venture com cinco investidores de São Paulo, ficou impressionado.

Genebra – “Foi um discurso muito importante, no qual ele esclareceu sua posição política. Às vezes a abordagem pragmática de um ex-socialista não é bem entendida na Europa. Eu só esperava um pouco mais de entusiasmo de um ex-líder sindical”, disse Knoepfel. O empresário possivelmente guardava a imagem explorada pelos jornais europeus do homem que parava fábricas no Brasil durante as greves, passou anos lutando na oposição até chegar à presidência e hoje promete um novo modelo de desenvolvimento.

O que ele encontrou foi um presidente, que, para buscar parceiros, caiu no pragmatismo dos homens de negócio: enfrentou uma platéia de empresários tendo todos os ministros da área econômica a seu lado, cada qual com discurso ensaiado e pastinhas cheias de gráficos. Não fosse a China, com seu crescimento espetacular de quase 9% em 2003, para ofuscar o Brasil – os chineses viraram as novas vedetes do mundo – o país teria passado bem no teste da reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o maior encontro empresarial do mundo. O presidente Lula não foi este ano a Davos e o Brasil e a América Latina saíram do foco: passaram quase despercebidos. Só se falava de Índia e China.

Instigados por jornalistas brasileiros, economistas como Jacob Frenkel, presidente da Merril Lynch, Charles Dallara, diretor do Institute of International Finance, a maior organização mundial de banqueiros, e Anne Krueger, vice-diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), só faziam elogios.

“O Brasil está fazendo tudo que pode nesse estágio. Não se preocupem com a Ásia. Façam o trabalho em casa”, recomendou Dallara. O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfensohn, parecia cabo eleitoral do presidente Lula: “O Brasil é talvez o experimento social mais importante hoje no mundo”. A seqüência de elogios foi quebrada pelo megainvestidor George Soros. Ele disse que Lula estava “comportado demais” e “muito ortodoxo” na sua política econômica.

Mas na esquerda há uma certa expectativa e desânimo. Lideranças apontam contradições entre a política de hoje e as propostas do antigo líder da oposição brasileira. “Está na hora de os movimentos sociais cobrarem de Lula”, disse o sociólogo português e professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Souza Santos, um dos organizadores do Fórum Mundial Social, dando a entender que, se não for criticado, o governo Lula vai perder seu rumo de esquerda.

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