Brasília – Tentando se descolar, cada vez com mais intensidade, dos companheiros de partido envolvidos em denúncias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem radicalizado nos discursos em defesa de sua honra nos palanques, mas, no Palácio do Planalto, fala cobras e lagartos de petistas. O grau de irritação do presidente é medido por assessores próximos no que foi apelidado no Palácio do Planalto de lulômetro. No topo da escala de decepção está o ex-dirigente petista Sílvio Pereira, o Silvinho. Ele ganhou uma Land Rover de presente da empresa baiana GDK Engenharia.
Na semana passada, Lula desabafou: "Não aprovo, mas posso até entender o que levou alguém a pegar dinheiro para o partido. Mas ganhar um carro de presente é inadmissível! Isso é roubar. É tirar proveito do Estado em benefício próprio", diz Lula. O segundo da lista é o ex-tesoureiro Delúbio Soares, a quem Lula chama de deslumbrado.
Na seqüência, aparecem o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (SP) e o ex-presidente do PT José Genoino. Não escapa nem mesmo o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, o ex-ministro Luiz Gushiken, que continua no governo. Aos poucos amigos petistas que ainda o cercam no governo, Lula tem demonstrado decepção com todos os envolvidos no escândalo. Sobre Delúbio, o presidente faz todo tipo de crítica: além de deslumbrado, diz que foi um joguete nas mãos do empresário mineiro Marcos Valério de Souza e que não soube dimensionar o que estava fazendo. Lula também está furioso com o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Até agora não entende como ele envolveu a mulher, Márcia Regina Cunha, para receber o pagamento de R$ 50 mil feito por Valério. Lula também está desconfiado que o dinheiro de Valério para deputados serviu para ajudar a emenda de reeleição para presidentes da Câmara e do Senado, que João Paulo tentou votar no ano passado.