Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou ontem se posicionar sobre o possível afastamento do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que está sendo acusado de receber propina de um empresário. Numa rápida conversa com jornalistas no Ministério das Relações Exteriores, Lula sorriu ao ouvir a pergunta se Severino deixaria o cargo. "Pergunta para ele", respondeu enquanto aguardava, ao lado do chanceler Celso Amorim, a chegada do presidente da Nigéria, Olosegun Obasanjo, no hall de entrada do Itamaraty.
Ministros e auxiliares de Lula avaliaram, num primeiro momento, que os ataques a Severino, acusado de cobrar propina do empresário Sebastião Buani, concessionário de um restaurante na Câmara, trouxe alívio para o Palácio do Planalto, pois os holofotes da crise passaram para o Poder Legislativo. Mas este alívio foi por pouco tempo, porque nos últimos dias Lula e ministros, no entanto, começaram a enxergar uma manobra da oposição em tentar desestabilizar os chefes dos poderes da República com vistas às próximas eleições. Há o temor de a oposição se apossar do comando da Câmara Federal para colocar ainda mais pressão sobre o Palácio do Planalto. E, para isso, basta apenas que Severino caia. O sucessor é do PFL. O Planalto não vê em Severino um aliado com que se possa contar em qualquer situação. No início deste mês, o presidente da Câmara ajudou a derrubar um veto de Lula a um projeto de reajuste do salário de servidores do Legislativo. Mas o afastamento do deputado do PP do comando da Câmara poderia trazer mais dor de cabeça para o governo na reta final do mandato de Lula. O primeiro na linha de sucessão de Severino é o vice-presidente da Casa, o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), que faz forte oposição ao Planalto.
Fala
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará hoje, às 20 horas, feriado pelo Dia da Independência, um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão. De acordo com informação da Secretaria de Imprensa e Porta-Voz da Presidência da Repúbica, o pronunciamento terá cerca de seis minutos de duração e foi gravado na manhã de ontem. Será a propósito do Dia da Pátria, mas o presidente também abordará o momento político e econômico. O pronunciamento de hoje será o oitavo do presidente em cadeia nacional, desde o início do mandato. No último pronunciamento, em junho, Lula falou sobre o combate à corrupção e as ações de seu governo.