Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não tem necessidade de fazer um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “É uma decisão política que nós vamos tomar no momento certo”, ressaltou Lula. “Só o faremos se houver como tirar alguma vantagem para o País. Nós estamos tranqüilos, não estamos em nenhum sufoco. O Brasil está muito a cavaleiro para dizer ao FMI: não queremos acordo, não vamos renovar e acabou”, afirmou o presidente.
O presidente brasileiro explicou que não foi o FMI que determinou o superávit. “Esse superávit que nós colocamos para a lei de diretrizes orçamentárias do ano passado (de 4,25% do PIB) é uma decisão do governo, não é uma decisão do FMI.” O Brasil, segundo o presidente Lula, está totalmente à disposição para dizer ao Fundo em quais bases faz o acordo.
O presidente disse que os juros vão continuar caindo. Mas, indagado sobre o efeito da queda sobre a atividade econômica e sobre a necessidade de um corte maior da taxa, Lula respondeu: “Queda dos juros não é um carro, não estamos na Fórmula 1”. Ele disse que o governo não precisa reduzir a taxa de juros de forma abrupta para depois ter de aumentá-la outra vez. O presidente lembrou aos jornalistas que, em sua posse, afirmou que faria primeiro as coisas necessárias e depois as possíveis. “As coisas têm prazo para ir acontecendo. A taxa de juros vai continuar caindo. A economia do Brasil vai continuar a crescer. Mas, quando tomamos determinadas medidas, elas não se refletem no dia seguinte”, afirmou.
Lula também se reuniu por pouco mais de uma hora com o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, e ao final do encontro ele disse que aquele país é tão importante na relação com o Brasil quanto o próprio Brasil. De acordo com Lula, a conversa entre os dois foi a melhor possível. “Achamos que o sucesso da Argentina é o sucesso do Brasil, pois os dois países têm muita responsabilidade no fortalecimento do Mercosul”, afirmou.
Lula explicou que a conversa de ontem serviu para acertar alguns temas de sua visita a Buenos Aires no próximo dia 16 de outubro. “Temos que acertar todos os pontos para que no dia 16 possamos assinar alguns acordos importantes na Argentina”, informou. Sobre reportagens na imprensa argentina quanto a uma eventual decepção do governo Kirchner a um não-apoio explícito do Brasil ao acordo com o FMI, Lula disse que não conversou sobre isso. “Nada, absolutamente nada, criará qualquer problema na relação Brasil-Argentina porque há uma decisão dos dois governos de priorizar essa relação. O sucesso de um depende do sucesso do outro”, disse.
Lula não conversou com Kirchner sobre um possível apoio argentino à candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Snow diz que Lula é notável exceção
Dubai – Nem mesmo nos tempos aúreos da dupla Pedro Malan e Armínio Fraga, durante o encontro da primavera do FMI em Praga, em 2000, o gerenciamento da economia brasileira recebeu tantos confetes e elogios como na reunião do organismo multilateral que se encerrou ontem, em Dubai. As avaliações positivas para o Brasil foram praticamente unânimes entre autoridades, investidores e analistas que participaram do evento e foram coroadas pelas declarações do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, que qualificou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, como “notáveis exceções” de lideranças no mundo atual.
Ao contrário da Argentina, com intricada reestruturação de sua dívida, a economia brasileira não foi tema de grande interesse para os mais de mil jornalistas provenientes de todo o mundo que cobriram a reunião. E a experiência dessas reuniões mostra que quando o país não desperta curiosidade, ele está sendo visto com bons olhos pela comunidade financeira internacional.
Mas, embora afirmem que o Brasil está criando condições para o início de um crescimento econômico sustentado e mais ambicioso, permanece a avaliação de que sua economia ainda apresenta vulnerabilidades, como alertou o economista-chefe do Fundo, Kenneth Rogoff. O conselho dirigido pelo diretor-gerente do FMI, Horst Kohler, a todos as autoridades presentes em Dubai, é de que é preciso moderar o otimismo com a economia mundial e o mesmo se aplica ao Brasil.