Foto: Ricardo Stuckert/PR

Lula, que é corintiano fanático, deu uma camisa do Palmeiras para o presidente argentino segurar.

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O presidente Lula e seu colega argentino, Néstor Kirchner, reafirmaram ontem a aliança bilateral e prometeram reforçar o Mercosul. Kirchner foi recebido com honras em Brasíia para sua primeira visita de Estado ao país, acompanhado de vários de seus ministros, incluindo a titular da Economia, Felisa Miceli.

Brasília – Os dois presidentes se comprometeram com um acordo para eliminar as assimetrias comerciais no bloco – que também inclui Paraguai e Uruguai como membros plenos. Lula se referiu ao descontentamento manifestado por Paraguai e Uruguai, por considerarem que não têm recebido o impulso de desenvolvimento esperado, e afirmou que "precisamos ser generosos com nossos irmãos menores". Kirchner assinalou que "no Paraguai e Uruguai se fortalecem posturas críticas ao Mercosul", e pediu "um exercício conjunto para atender às reclamações".

"Não é interesse do Brasil nem da Argentina que as assimetrias se tornem estruturais", disse Lula nas declarações que os dois presidentes deram a jornalistas após uma reunião de duas horas no Palácio do Planalto. Lula acrescentou que o Brasil está "aberto a propostas para ampliar acordos setoriais" que evitem danos a setores industriais como conseqüência de desequilíbrios no comércio regional.

A força das exportações brasileiras no mercado argentino, ainda com um câmbio desfavorável, tem provocado queixas de representantes da indústria da Argentina, que registrou no ano passado um déficit no seu comércio com o Brasil de mais de US$ 3 bilhões. Lula e Kirchner também discutiram temas de integração energética, incluindo a possível construção de um gasoduto para levar gás natural venezuelano ao Brasil e à Argentina. O assunto voltará a ser discutido nesta quinta-feira em Brasília em uma reunião que também terá também a presença do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Uruguai

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O encontro entre os presidentes Lula e Kirchner, da Argentina, foi marcado pela retirada de um blefe da mesa de negociações do Mercosul. O Uruguai enviou, durante a reunião no Palácio do Planalto, uma clara mensagem de que não vai iniciar nenhuma negociação de livre comércio com os Estados Unidos. Portanto, vai manter seu compromisso com as regras da união aduaneira. A ameaça havia mobilizado os sócios maiores do bloco, contaminado a preparação da primeira visita oficial de Kirchner ao Brasil e levado ambos os governos a expiar suas próprias culpas por não terem estendido os benefícios do Mercosul ao Paraguai e ao Uruguai.

Os "sinais tranqüilizadores" emitidos de Montevidéu direto ao Palácio do Planalto foram confirmados pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.

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Ao final de uma hora de conversa, no Palácio do Planalto o presidente Lula resumiu em um discurso que ambos os países têm de fazer mais pelos "irmãos" menores. Kirchner justificou as iniciativas do Uruguai e do Paraguai como o resultado da "desatenção" dos principais sócios com as assimetrias dessas economias, mais frágeis que as do Brasil e da Argentina. Também defendeu que Brasília e Buenos Aires atuem de forma solidária e alertou que os benefícios do Mercosul não podem "ter uma só direção".

"O Mercosul deve adotar, no seu interior, aquilo que reclama no exterior", resumiu, referindo-se aos repetidos bordões do Brasil e da Argentina de que não podem fazer concessões no mesmo nível que as economias mais desenvolvidas nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A declaração do presidente argentino teve, igualmente, um tom de cobrança ao Brasil, de quem Buenos Aires também espera concessões mais generosas, supostamente para desenvolver setores industriais afetados pelas políticas econômicas adotadas nas últimas duas décadas e pela concorrência com os produtos brasileiros.

Pontualmente, o governo Kirchner espera esse comportamento de Brasília nas negociações em curso entre os dois países sobre a Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC), um mecanismo para proteger setores prejudicados, e do novo acordo automotivo. Mas, no momento em que discutia esses temas agudos com Lula, seu governo abriu mais uma investigação contra produtos brasileiros, sob a suspeita de dumping. Desta vez, envolvendo transformadores.