A tendência do Congresso Nacional de adiar para 2006 a votação do Orçamento da União deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irritado. Segundo um dirigente do PMDB que se reuniu com o presidente na quarta-feira, Lula ameaçou responsabilizar publicamente a oposição por "paralisar o crescimento do País" caso os partidos adversários impeçam a aprovação da proposta orçamentária até o final de dezembro. "Se isso acontecer por interesse eleitoral, será uma irresponsabilidade. Vamos ter que denunciar a oposição por prejudicar o país, por tentar paralisar o crescimento", teria dito o presidente.
Lula ameaçou denunciar a oposição em reunião com a cúpula governista do PMDB, logo depois que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que considerava "quase impossível" aprovar o Orçamento ainda em 2005. Também participaram da reunião o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), os ministros Hélio Costa (Comunicações), Saraiva Felipe (Saúde) e Silas Rondeau (Minas e Energia) e o líder no Senado, Ney Suassuna (PB).
O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, confirmou que a aprovação do Orçamento 2006 é o objetivo central do governo no Congresso e que vem encontrando resistências da oposição. "Estou conversando com os líderes de todas as bancadas para demonstrar que o interesse do país é o limite para a disputa política", disse Wagner no final da noite de quarta-feira. À tarde, o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), já havia informado ao ministro que a oposição não está disposta a votar a proposta do governo.
Aprovar o novo Orçamento ainda este mês, o que permitiria sua execução já em janeiro, é peça fundamental do "ajuste de crescimento" planejado por Lula para o ano eleitoral. Se conseguir a aprovação até o final do ano, o governo teria garantidas despesas de R$ 2 bilhões no começo de 2006, em aproximadamente 50 projetos de infra-estrutura, além de fixar no Orçamento uma previsão para reajuste do salário mínimo superior à que constava na proposta inicial (R$ 321).
Segundo um ministro da coordenação de governo, o plano de "ajuste do crescimento" também inclui uma revisão da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que está congelada em 9,75%, como forma de incrementar os financiamentos concedidos pelo BNDES. O governo quer adotar essas medidas expansionistas dentro da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), numa conjuntura de queda gradual da taxa básica de juros. Lula encomendou uma reavaliação do impacto do reajuste do salário mínimo sobre as contas da Previdência para garantir uma correção real, acima da inflação.
Engraçadinho
Na quarta à noite, na posse do deputado Eduardo Campos (PE) na presidência do PSB, Lula reclamou que de vez em quando aparece "um engraçadinho" querendo interromper o processo democrático, não respeitando o tempo de mandato do presidente da República. "Algumas pessoas, neste País, têm que aprender uma lição: democracia significa alternância de poder", afirmou. No seu discurso, Lula voltou a afirmar que a reeleição e a verticalização das coligações partidárias nas campanhas eleitorais não são paixão dele. "Para alguém ser candidato à reeleição, existem fatores condicionantes, e é preciso contar até dez antes de tomar uma decisão."
