Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, na polêmica questão do recadastramento dos aposentados com mais de 90 anos. Em seu programa de rádio quinzenal, que estreou ontem, Lula disse que “de vez em quando, até um bom jogador perde um pênalti”.
Há cerca de duas semanas, o Ministério da Previdência Social decidiu bloquear o pagamento dos benefícios para que os idosos fossem pessoalmente aos postos do INSS comprovar que ainda estavam vivos. A medida, segundo o ministério, tinha como objetivo diminuir as fraudes no sistema previdenciário. Segundo dados da Previdência, dos 105 mil aposentados com mais de 90 anos, cerca de 30 mil aposentadorias são irregulares. “Na tentativa de corrigir, houve excesso. E o excesso é imaginar que uma pessoa de 90 anos pode se locomover como uma de 50 ou 60. O Ricardo Berzoini já reconheceu o erro e pediu desculpas à sociedade brasileira (…) Eu acho que todo grande homem não precisa ter vergonha de pedir desculpas”, afirmou Lula.
O presidente também enalteceu o trabalho de Berzoini. “O Ricardo é uma figura excepcional, um ministro extraordinário. Não tenho dúvida nenhuma que, no final de quatro anos, ele vai deixar o governo impecável nos pontos de vista administrativo, da arrecadação e da moralização”, disse. Lula aproveitou o programa para fazer um balanço dos dez primeiros meses de governo. Ele ressaltou o crescimento da economia, o controle da inflação e a criação de créditos populares. “Nós vamos utilizar todos os mecanismos possíveis para que as pessoas possam consumir”, afirmou. O programa de rádio Café com o Presidente irá ao ar quinzenalmente, transmitido pela Rádio Nacional de Brasília e pelas emissoras do sistema Radiobrás.
O encontro será transmitido sempre às segundas-feiras em três horários: 6h, 7h, 8h30 e 13h. No primeiro programa, Lula respondeu a perguntas do jornalista Luiz Fara Monteiro. Quanto à reforma ministerial, Lula, ainda na Bolívia, jogou um balde de água fria na pretensão dos peemedebistas, que articulam nos bastidores para que a reforma ministerial seja feita o mais rápido possível. Lula afirmou que não vai se precipitar para fazer a reforma ministerial e descartou a possibilidade disso acontecer até o dia 15 de dezembro, como já declararam membros da cúpula do governo.
“As pessoas sabem que quem troca o Ministério é o presidente da República e quem discute com os partidos políticos o Ministério é o presidente da República. No momento certo, as coisas vão acontecer”, disse.
Estado não faz crescimento sozinho
Brasília
– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que conta com o setor privado para inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento no País. “Sozinho, o Estado não tem fôlego para reverter a bola de neve orçamentária e social”, disse durante seminário “Promoção de Consenso Político para a Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na América Latina e no Caribe”, em Brasília. “Confiamos que o setor privado possa atravessar a ponte e se unir aos esforços do governo na construção da infra-estrutura capaz de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento.” Lula lembrou que o Brasil enfrenta déficits de infra-estrutura em áreas cruciais. Entre os exemplos, ele citou que 83 milhões de brasileiros vivem em regiões sem saneamento; 42% das residências não têm água tratada; e que em mais de 70% das habitações do Norte e Nordeste falta coleta de lixo. Segundo o presidente, o governo federal investirá R$ 3 bilhões em 2004 por conta do superávit extra deste ano. “Outros 3 bilhões virão da Caixa Econômica e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. O total representa vinte vezes mais do que o aplicado em 2002”, disse. Ele ressaltou, no entanto, que para universalizar o saneamento básico, seriam necessários R$ 42 bilhões.O ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Pauo (Fiesp) Mário Amato disse ontem acreditar que o espetáculo do crescimento prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai começar no ano que vem. “Acredito que venha (o espetáculo) ano que vem”, avaliou. O empresário disse estar “surpreendido positivamente” com o desempenho de Lula como presidente. “Sou independente. Não votei nele e ele sabe disso. Somos amigos há 20 e tantos anos e tivemos não atritos, mas negociações dolorosas. Eu o respeito porque é um homem de bem”, comentou Amato.