Brasília
– O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse, ontem, ao chegar ao aeroporto de Brasília, que o país “jamais viverá a situação econômica da Argentina”. Ele se defendia de acusações de seu oponente José Serra (PSDB) que o acusa de não ter experiência para enfrentar a crise brasileira. Lula disse que não consegue entender a campanha de seu adversário, José Serra.“Eu não consigo compreender a linha adotada pelo meu adversário. Ele (Serra) conhece muito bem o Brasil e sabe que o Brasil jamais viverá situação econômica da Argentina, porque o Brasil tem um potencial maior e uma base industrial mais sólida”, afirmou. Lula disse, ainda, que está percorrendo o Brasil para ajudar os companheiros que disputam o segundo turno nos estados. Lula foi recebido pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimental, pelo candidato do PT ao governo do DF, Geraldo Magela, pelo senador eleito Cristovam Buarque e por deputados. O candidato foi em carreata nas cidades satélites de Taguatinga e Ceilândia.
Na chegada de Lula ao aeroporto de Brasília, um fotógrafo da agência Reuters despencou de um telhado de vidro do angar da TAM, a cerca de três metros do solo, e teve traumatismo craniano. A saída do candidato do aeroporto foi atrasada até que o fotógrafo fosse socorrido e levado para o Hospital de Base.
Mas a realidade é que apesar da declaração e de todo o otimismo de Lula, a situação econômica brasileira é delicada e continuará sendo mesmo que o vencedor das eleições deste domingo seja seu adversário, José Serra. Quem faz este alerta é a professora de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Lourdes Sola. Ela faz uma análise impiedosa dos dois candidatos a presidente. Do petista Luiz Inácio Lula da Silva, ela reclama da ambigüidade no discurso, que assusta investidores. Lourdes critica também o fato de o PT não saber lidar com a contestação, como no episódio envolvendo a atriz Regina Duarte, que exerceu o seu direito a liberdade de expressão e foi crucificada por uma ala do partido denominada de xiita.
Quanto a Serra, Lourdes diz que seu erro foi não ter colado na imagem de Fernando Henrique logo no início, achando que o presidente era rejeitado pelo eleitor. No entando, ela acredita que as questões eleitorais já estão sendo coisa do passado, dada a grande vantagem de Lula. O importante é que qualquer que seja o eleito, a cientista política diz que enfrentará momentos difíceis pela frente, de crise mundial e aversão ao risco dos países emergentes.
O cenário internacional é dificultoso, ganhe Serra ou Lula”, afirma. A cientista diz que existem elementos que sinalizam para certa continuidade da atual política econômica, e sobretudo do arcabouço institucional deste governo, mas ao mesmo tempo há declarações que vão na direção contrária. “Vou dar dois exemplos. Um são as declarações, de olho nos mercados, do presidente do PT e de outros representantes da cúpula do partido. Ao mesmo, adotam um discurso agressivo sobre as conquistas do Governo FHC como se ele não tivesse feito nada”, diz.
Argentinos: situação do Brasil é feia
Buenos Aires
– O jornal “Clarín”, em uma análise sobre a economia brasileira diz que o Brasil do presidente FHC parece finalizar da mesma forma que terminou a Argentina no ano 2001: “Com uma dívida difícil de pagar, uma pressão enorme sobre o câmbio, fuga de divisas, desemprego, queda da produção industrial. Pode-se dizer que a herança que o futuro presidente brasileiro receberá é mais pesada do que a que (o ex-presidente) De la Rúa recebeu no ano 2000”, quando tomou posse após uma década de governo Menem.Nas últimas semanas, a mídia argentina dedicou amplo espaço para análises sobre debilidades na economia brasileira, além especular panoramas sombrios sobre o que poderia ocorrer no ano que vem, com o próximo governo. Ontem, o jornal “El Cronista” colocou uma chamada na capa afirmando que o que está ocorrendo no Brasil é uma “instabilidade política” que teria produzido “um efeito devastador nas reservas brasileiras”. Com o título de “O Brasil consumiu em outubro 10% da ajuda total do FMI”, o jornal destacou que o Banco Central está usando seus dólares para cancelar dívidas que os investidores não estão dispostos a renovar.