Foto: Ricardo Stuckert

 Lula com o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, durante conferência de imprensa no Porto.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Portugal que seu governo não vai fazer "pirotecnia" em 2006, quando o Brasil tem suas próximas eleições presidenciais. Ele se comprometeu "moralmente" a não fazer "nenhum gesto" e não adotar "nenhuma medida" que possam "colocar em risco a solidez das coisas que nós construímos até agora com muito sacrifício".

"O Brasil já teve muita pirotecnia", disse Lula em discurso para uma platéia de empresários portugueses e brasileiros no Porto. "Já houve muitos mágicos no Brasil. Já se inventou plano à meia-noite que acabou de madrugada. Já se inventou plano que parecia que o Brasil ia ficar rico, e, quando terminava o plano, o Brasil estava mais pobre. Nós não faremos isso", disse.

Lula discursou na abertura de um seminário comercial na cidade do Porto, a primeira parada de sua atual viagem à Europa, que também inclui paradas em Salamanca, na Espanha, na Itália e na Rússia. Ele criticou governantes que "ficam mais generosos" na medida em que se aproximam eleições. O presidente afirmou que isso pode levar a "atos de irresponsabilidade, até porque o dinheiro que ele vai gastar não é dele, é um dinheiro arrecadado do povo".

Lula prometeu que isso não vai acontecer no seu caso. "Eu não vou carregar nas minhas costas a responsabilidade de não ter consolidado a chance de o Brasil ser definitivamente um país desenvolvido", afirmou. "Em economia não existe mágica. Existe responsabilidade e oportunidades", afirmou. "Estamos convencidos de que o Brasil está se preparando para um novo ciclo de crescimento, que só acontecerá se, do presidente da República ao mais humilde servidor, todos levarem a sério que o Brasil não pode jogar fora essa chance excepcional que está tendo", afirmou Lula, tendo a seu lado o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates.

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O presidente apresentou um balanço positivo dos indicadores econômicos brasileiros, afirmando que eles não são frutos passageiros. Segundo Lula, eles são um argumento sólido para que os empresários portugueses apliquem mais recursos no Brasil. Os investimentos diretos dos portugueses no Brasil caíram de US$ 1,7 bilhão, em 2001, para US$ 570 milhões, em 2004.

Também em discurso, o primeiro-ministro José Sócrates elogiou a política econômica brasileira, afirmando que "os resultados apresentados são muito bons". Afirmou que houve muita gente que não acreditou. "Mas nós nunca tivemos dúvida de que o Brasil teria sucesso com o crescimento econômico", assegurou, acrescentando que a economia dá sinais de confiança, repassados aos empresários.

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Reeleição: chance aumenta com novas vitórias

Londres – De acordo com o jornal britânico Financial Times as chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva crescem após duas vitórias: a do deputado Aldo Rebelo (PcdoB-SP) para a presidência da Câmara e a de Ricardo Berzoini para o comando do PT. O jornal lembra que acusações de corrupção e um escândalo de financiamento ilegal de campanhas envolvem há quatro meses o governo e o partido.

O Financial Times ressalta que Berzoini, candidato do Campo Majoritário, corrente que comanda o partido há mais de dez anos, derrotou o candidato da esquerda do partido, Raul Pont, um crítico da política econômica, após uma "meia derrota" no primeiro turno. Aliada à vitória do candidato do governo, Aldo Rebelo, à presidência da Câmara, o resultado dá novo fôlego a Lula, na avaliação do respeitado jornal inglês.

Enquanto isso, em Portugal, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, atacou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que ele demonstrou a "volúpia eleitoral da oposição" ao pedir que o presidente Lula parasse de falar e até não concorresse à reeleição. Dulci disse que setores da oposição tentaram criar um clima "exacerbado, artificial e sectário" contra o governo e que foram desmentidos pelos fatos.

Brasileiros ilegais, um velho problema

Porto – Os governos do Brasil e de Portugal discutiram ontem a situação dos brasileiros que vivem ilegalmente em Portugal, durante a 8.ª Cimeira Brasil-Portugal, realizada no Porto. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro estima que cerca de 120 mil brasileiros vivam em Portugal. Eles são aproximadamente 24% de todos os estrangeiros no país.

Em 2003, os governos do Brasil e de Portugal assinaram um acordo para facilitar a legalização dos imigrantes brasileiros. O acordo beneficia quem chegou a Portugal até 11 de julho de 2003. Nesse processo, foram identificadas cerca de 30 mil pessoas. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, cerca de 13,7 mil conseguiram obter o visto de trabalho e mais de mil estão concluindo o processo. O acordo tem validade de cinco anos e pode ser renovado por mais cinco.

Apesar desse acordo, muitos brasileiros encontram dificuldade para regularizar a situação no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal. Eles precisam comprovar a entrada no país antes de 11 de julho de 2003, ausência de antecedentes criminais e ter vínculo empregatício.

Uma das principais dificuldades, segundo o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Julio Cezar Zelner Gonçalves, é o alto custo desse processo. Para ter direito ao visto de trabalho, o estrangeiro precisa ter contribuído para a Previdência por três meses e pagar multa por ter trabalhado ilegalmente.