O presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou a ala radical do PT ontem, durante discurso para vereadores e deputados do partido, em Brasília. O presidente disse estar “doido” para discutir a reforma previdenciária, principalmente com os que vêm mantendo um tom contrário à proposta.
Brasília – “Eu tô doido para discutir a Previdência. Estou vendo muita gente fazendo discurso contra. Para mim, quanto mais radical, melhor. Adoro fazer esse debate”, afirmou, despertando risos e aplausos da platéia. Os chamados radicais do PT, como a senadora Heloísa Helena (AL) e a deputada federal Luciana Genro (RS), fazem críticas freqüentes à proposta de reforma da Previdência. Eles estão ameaçados de serem expulsos da legenda.
Lula afirmou que não está fazendo nenhum “mal” com a proposta de reforma e que não está “privatizando” a Previdência. “O que não podemos é aceitar que uma minoria determine a condição de vida da maioria do nosso povo.” “Não queremos tirar direito de ninguém. Queremos aumentar o direito de quem não tem”, acrescentou. Lula ainda disse que há pessoas que “invertem o discurso” para atacar o governo, referindo-se em torno da questão dos juros. Segundo ele, “é lógico que os juros anuais de 26% são altos”, mas não são eles “que estão matando o povo”. Para o presidente, as taxas de juros do mercado financeiro é que são o grande problema.
O presidente voltou a pedir paciência para fazer as ações necessárias para a retomada do desenvolvimento. Para ele, é natural que o processo seja “demorado”. Ele terminou o discurso dizendo ter “a perna curta, mas os passos são largos”. Ainda em mais uma defesa das reformas, Lula atacou o “corporativismo” do movimento sindical. Lula tentou ser didático ao apresentar argumentos favoráveis à cobrança da contribuição previdenciária dos funcionários públicos aposentados e disse que “ninguém tem de ter vergonha” das reformas. “Sei que muita gente tem afinidades, é ligado, como eu, às corporações. Eu sei que é difícil, os companheiros falam ?Não, mas os meus amigos são do sindicato tal, do sindicato tal?”, discursou. “Não estou falando isso agora. Quem me conhece sabe que já faz aproximadamente oito anos que estou fazendo discurso, dizendo para o movimento sindical: ?Vocês precisam deixar de ser corporativos, de pensar apenas no aumento de salário, e começar a pensar no tipo de Brasil que nós queremos construir”.
Base histórica do PT e origem de muitos dos 52 milhões de votos que elegeram o presidente, os sindicatos de funcionários públicos são hoje um dos maiores focos de resistência à reforma da Previdência. Eles organizaram o maior ato de rua contra o governo Lula, no dia 10, com cerca de 20 mil funcionários públicos marchando pela Esplanada dos Ministérios. Apesar de divididos quanto à greve, os sindicatos convocaram paralisação do funcionalismo federal a partir do dia 8.