O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, chega amanhã (3) ao Chile disposto a, na conversa com o presidente Ricardo Lagos, defender a entrada oficial do país no Mercado Comum do Sul (Mercosul), mas sabe que a resposta dos chilenos é negativa.
Com tarifas alfandegárias muito mais baixas do que as praticadas pelo bloco comercial de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, as autoridades chilenas não vêem motivos para se integrar no Mercosul. Têm interesse, porém, no fortalecimento do bloco e na consolidação do Chile como membro associado e “sócio político estratégico”.
“Não há motivo para aumentarmos nossas tarifas, nenhum país pode fazer isso. Mas temos todo empenho no fortalecimento do Mercosul. Espero que tenhamos grande concentração política, especialmente na negociação com a Alca”, disse hoje o senador chileno Carlos Ominami, do Partido Socialista, que participa amanhã do almoço de Lula com Lagos e, à noite, estará na recepção para cem convidados oferecida pelo PT.
Amigo do presidente eleito e de outros dirigentes petistas, como o presidente nacional do partido, deputado reeleito José Dirceu (SP), e o secretário de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, Ominami acompanhou de perto o que chama de “revolução política” promovida pela legenda. Ele esteve no Brasil no primeiro e no segundo turno das eleições presidenciais e está confiante que Lula estreitará as “boas relações históricas entre Brasil e Chile”.
“Acredito que Lula trará a oportunidade para que o Chile tenha mais sintonia com a América Latina”, afirmou.
Revigorar o Mercosul para as negociações com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e mesmo com a União Européia (UE), as duas dificultadas pelas barreiras tarifárias e subsídios dos países ricos, é o objetivo central do presidente em relação à política internacional do governo.
O Chile fechou um acordo comercial com a UE e anuncia para breve o pacto bilateral com os Estados Unidos, um longo entendimento que chilenos e americanos dizem estar próximo da conclusão.
O jornal El Mercurio de hoje reforça a negativa de o Chile vir a integrar, oficialmente, o Mercosul, mas aposta no esforço de Lula para que o país tenha um papel importante numa possível nova fase do bloco comercial, mais coeso e fortalecido, apesar das crises econômicas por que passam os integrantes.
“Descartada a possibilidade de que Lagos aceite se integrar plenamente no bloco, pois não está disposto a aumentar as tarifas para se pôr a par com os países integrantes, Lula buscará que o Chile seja um assessor de primeiro nível”, diz a reportagem, que anuncia a ida do presidente do Chile a Brasília para a reunião dos chefes de Estado do Mercosul, quinta-feira (5).
Segundo o El Mercurio, “a grande novidade é que o país anfitrião participará com o presidente Fernando Henrique Cardoso e com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva”. O jornal informa que os auxiliares mais diretos de Lagos acreditam que o novo presidente tem interesse em conhecer a experiência dos negociadores chilenos, especialmente nos acordos recentes com europeus e americanos.
Além de uma estratégia para o futuro do Mercosul, dois outros assuntos interessam aos brasileiros em visita ao Chile: a reforma previdenciária e políticas sociais que fizeram a pobreza no país cair à metade em 20 anos.
Segundo dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), das Nações Unidas, a taxa de pobreza no Chile em 2001 foi de 20% da população, enquanto a do Brasil atingiu 36,9%. A Cepal, criada para estudar e aprofundar as políticas do desenvolvimentismo latino-americano, com sede em Santiago, será visitada amanhã por Lula, depois da reunião e do almoço com o presidente.
“Temos 12 anos de experiências em políticas sociais e um grande êxito na redução da pobreza; talvez, possamos falar de nossa realidade, como uma contribuição”, diz o senador do Partido Socialista do Chile. Para Ominami, a eleição de Lula “foi o grande acontecimento político da América Latina nos últimos anos e será importante para o fortalecimento da democracia”.
O presidente ficará hospedado na Embaixada do Brasil, num antigo palácio, no centro da capital chilena. A volta de Lula para o País está prevista para quarta-feira (4) de manhã.