Lula: Brasil já era para ter
virado uma Colômbia.

Vitória – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o controle externo do Poder Judiciário. “É preciso saber como funciona a caixa preta desse poder que se considera intocável”, disse, em solenidade no Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo. O presidente disse ainda que o crime organizado tem vencido “de forma vergonhosa” a polícia e não está somente nas favelas, mas também nas coberturas dos edifícios.

Mesmo antes de enviar ao Congresso os projetos de mudanças na Previdência Social e na legislação tributária, Lula já defende uma nova reforma: a do Poder Judiciário. Em seu discurso, na solenidade de assinatura de um protocolo para repasse de verbas para o setor de segurança pública, Lula acusou a Justiça brasileira de ser “classista”, de julgar em favor das classes mais abastadas. “Por isso brigamos há tanto tempo pelo controle externo”, discursou. “Não é para meter a mão na decisão de um juiz, mas para pelo menos saber como funciona a caixa preta do Judiciário, que muitas vezes é intocável.” Lula chegou a dizer que o crime organizado tem um braço na Justiça.

O presidente defendeu um sistema de segurança pública que não cometa injustiças, não puna inocentes e não absolva culpados. “Queremos que a Justiça seja igual para todos e não uma Justiça que cuida com mais carinho daqueles que têm alguns contos de réis, como dizia Lampião em 1927: ?Neste País, quem tiver 30 contos de réis, não vai para a cadeia?.” Segundo ele, a Justiça muitas vezes “não age como Justiça”.

Consciente das resistências dos magistrados sobre mudanças no setor, Lula defendeu que a sociedade comece a “assumir os espaços que lhe são de direito”.

Ao discursar para uma platéia de políticos e empresários, Lula criticou os advogados de presos que resistem a passar por detectores de metais nos presídios, quando vão visitar seus clientes. “Não é possível que um deputado passe por um raio-X, um advogado passe num aeroporto por um raio-X, um procurador da Justiça passe, o Ministério Público passe, o presidente da Infraero passe, e o advogado não quer se submeter a uma máquina para visitar um preso”, indignou-se. “Nós, homens livres, temos menos privilégios que os condenados.”

Lula revelou ter assistido a um filme, feito pela Força Aérea Brasileira, da perseguição a um avião de traficantes, feita pela Aeronáutica, e disse que poderá, um dia, exibi-lo para os 27 governadores. “É o poder do crime organizado contra as instituições”, disse. “Eles zombam porque não podemos atirar, não temos lei que nos permita atirar, e de vez em quando mostram crianças dentro do avião, mostram mulheres, fazem gestos obscenos.”

O presidente disse que somente a persistência é que faz com que o Brasil não vire uma Colômbia. Foi assinado um protocolo de intenções e repasse de recursos da União para o Espírito Santo para a área da Segurança Pública.

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