Presidente Lula durante a “Caravana da Fome”. |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou ontem seus antecessores pela pobreza no Vale do Jequitinhonha, onde chegou com a chamada “Caravana da Fome”. A região é uma das mais miseráveis do Brasil. A cidade de Itinga, no norte de Minas Gerais, foi última escala do giro promovido por Lula ao semi-árido do País, com o objetivo de mostrar a 30 ministros e secretários as necessidades mais básicas da população pobre.
“A pobreza é resultado da incompetência dos que já governaram este País”, disse Lula. Para chegar a Itinga, procedentes de Recife, a capital de Pernambuco, Lula e sua caravana desembarcaram no Boeing presidencial na cidade de Montes Claros. De lá, já acompanhados do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seguiram em aviões menores até Araçuaí.
Os 40 quilômetros restantes até Itinga foram percorridos de carro. Já em Itinga, Lula e sua equipe atravessaram o rio Jequitinhonha em uma balsa. Do outro lado da cidade, milhares de pessoas esperavam o presidente, que discursou em um coreto. Lula esteve anteriormente em Itinga há nove anos, durante sua segunda campanha à Presidência da República. E, como aconteceu naquela época, andou pelas ruas, abraçou e apertou a mão de populares, muito emocionados com a presença do presidente, o primeiro na história do Brasil a visitar a cidade.
Enquanto ouvia pedidos dos moradores, Lula afirmou que, embora ambos pertençam a partidos diferentes, ele, do Partido dos Trabalhadores, e Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, unirão forças para melhorar a vida da população do Jequitinhonha. Em Itinga, quase metade das residências não tem banheiro e um terço da população com mais de 10 anos de idade é analfabeta. “Essa região, que é uma das culturalmente mais ricas do país, não pode continuar a ser vista pelo Brasil e o mundo como o ?Vale da Miséria?”, afirmou Lula em seu discurso na praça central. Lula prometeu urgência na construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, possibilitando a ligação de Itinga com cidades mais prósperas, com melhores condições de trabalho.
“Nunca entendi por que não existe essa ponte”, disse. “Certamente, se ao longo da história, os governantes tivessem parentes que moram em Itinga, essa ponte já existira”.
Ordem de Lula é cortar toda despesa
A ordem é cortar tudo o que não tem urgência para garantir recursos para os programas sociais, especialmente o Fome Zero. Desde que tomaram posse, ministros e secretários do governo Luiz Inácio Lula da Silva correm contra o tempo para apresentar aos ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e do Planejamento, Guido Mantega, um levantamento do que realmente é prioridade em suas pastas e o que pode ser cortado para que verbas do Orçamento da União para este ano possam ser remanejadas. O texto modificado do primeiro Orçamento do presidente Lula será sancionado amanhã ou, no mais tardar, terça-feira. Apesar do arrocho, após cortes, remanejamentos e ajustes, deverão ser garantidos pelo menos R$ 9 bilhões para os programas sociais, segundo Mantega.
“Vamos cortar tudo o que possa ser adiado, que não seja socialmente urgente… Somos a equipe da tesoura, mas temos os olhos voltados para a necessidade do povo”, disse Palocci na sexta-feira, durante a visita da comitiva presidencial à favela Vila Irmã Dulce, na periferia de Teresina. Na viagem, o poderoso ministro da Fazenda passeou pelas ruas esburacadas de mãos dadas com as gêmeas Larissa e Laís, de 4 anos, que moram na favela.
Pelo Orçamento, os gastos com a Saúde chegarão a R$ 26,5 milhões. Mas, para isso, todos os ministérios vão ter que apertar ainda mais o cinto, cortando 10% em despesas como, por exemplo, a contratação de serviços, inclusive de mão-de-obra terceirizada. “Queremos trabalhar com o Orçamento no sentido de que a contenção de despesas seja na atividade meio, que pode ser feita com menos recursos”, diz Palocci.