Cairo
(Egito) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem no Cairo, diante de representantes dos 22 países da Liga Árabe, mudanças na Organização das Nações Unidas (ONU) e criticou o poder de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança.Lula afirmou que é preciso fazer a ONU funcionar como o mais importante organismo multilateral. “E se é o mais importante, e se todos queremos viver em harmonia, não é possível que alguns sejam mais importantes e tenham direito a veto em coisas que a maioria aprova no Conselho de Segurança”, disse o presidente.
No discurso, considerado pela delegação brasileira como o mais importante da viagem de Lula aos países árabes, o presidente aprofundou os temas discutidos ao longo da viagem. O presidente já tinha defendido a necessidade de se alterar a geografia econômica do mundo. Na Liga Árabe, defendeu uma alteração na “geografia política e comercial” do mundo.
Candidatura
As declarações de Lula sobre a ONU podem ser interpretadas como uma crítica velada aos membros do Conselho que têm direito a veto, especialmente Estados Unidos e Grã-Bretanha, que se posicionaram contra os outros membros do órgão na fase que antecedeu a guerra no Iraque, embora não tenham usado o poder de veto. Além dos dois, atualmente Rússia, China e França têm direito a veto.
Lula também defendeu claramente a alteração da estrutura da ONU, com a inclusão de mais membros permanentes no Conselho de Segurança. O presidente também reforçou a candidatura do Brasil para um eventual posto no Conselho. “Não tenho dúvidas de que o Brasil fará a sua parte.”
O presidente disse ainda que o Brasil trabalhará para que o povo iraquiano recupere a soberania de seu país. “O Brasil se esforçará para alcançar soluções pacíficas no Iraque”, declarou Lula durante um discurso na sede da Liga Árabe. O presidente brasileiro destacou que é indispensável que “os iraquianos recuperem a soberania de seu território”.
Desenvolvimento
Lula deixou claro que acredita ser necessária a união entre os países em desenvolvimento e os países pobres para que eles possam mudar sua situação econômica. “Senão, nós continuaremos a ser eternamente países em vias de desenvolvimento. Outros continuarão a ser países eternamente pobres, enquanto apenas uma minoria é considerada a parte rica do planeta Terra”, disse Lula
Foi a primeira vez que um presidente latino-americano discursou na Liga Árabe. Em mais de uma ocasião, observadores classificaram como histórica a presença de Lula diante dos representantes da entidade. A visita também é o ponto mais frutífero para a articulação de uma cúpula entre o mundo árabe e os países sul-americanos que o Brasil está planejando para o segundo semestre de 2004.
Liga
Apesar da importância da iniciativa, há dúvidas sobre a influência da Liga Árabe quanto à situação no Oriente Médio, pois são grandes as divisões entre os países do grupo. A Liga Árabe foi testada duramente durante a guerra do Iraque, quando alguns países apoiaram, outros se opuseram e alguns ficaram à margem da situação.
As decisões adotadas na Liga Árabe precisam ser seguidas apenas por membros que as aprovaram e, por isso, as divisões têm paralisado a organização nas altas esferas políticas. A organização não coordena as políticas externa, econômica ou de defesa dos países árabes. Em situações em que há uma posição comum, como o apoio aos palestinos sob ocupação israelense, a Liga raramente vai além da divulgação de declarações. Talvez a única exceção tenha sido o boicote econômico a Israel que, entre 1948 e 1993, chegou a ser praticamente total no mundo árabe.
Tumulto no encontro com Kadafi
Trípoli
(Líbia) – O presidente líbio Muammar Kadafi recebeu ontem o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em frente à casa em que sua filha de um ano e meio morreu, em 1986, em consequência de um bombardeio norte-americano. A casa fica dentro de um complexo residencial e militar chamado Bab Aziziya e foi deixada da mesma forma que ficou logo após ao ataque. Logo na entrada foi construída uma estátua de ferro com a imagem de uma mão esmagando um caça norte-americano.Na parede da casa foram coladas fotos do presidente Lula com os dizeres em árabe indicando seu nome e seu cargo. Também foram colocadas bandeiras brasileiras em frente à residência com um detalhe: o lema “Ordem e Progresso” da bandeira foi escrito à mão e, na verdade, as palavras se juntavam, ficando “ordemprogresso”.
Cavalaria
A recepção foi acompanhada por uma cavalaria de berberes que abriu espaço para a comitiva presidencial em meio a uma multidão de milhares de pessoas, que estava concentrada do lado de fora do palácio.
Na parte interna, onde Kadafi recebeu Lula, depois dos cumprimentos iniciais, uma banda militar tocou hinos para os presidentes. A segurança em torno de Kadafi era muito intensa, a mais intensa encontrada por Lula na viagem aos países árabes. Deste ponto do complexo, os dois foram de carro para um prédio em uma ala oposta ao local do encontro inicial. Toda a comitiva, incluindo os ministros, teve que seguir a pé.
Confusão
Na entrada do prédio onde ocorreu a conversa, a guarda pessoal de Kadafi não queria deixar que ninguém portando malas ou mochilas entrasse no recinto. Os guardas líbios chegaram a brigar com diplomatas brasileiros e líbios. Houve empurra-empurra e gritaria.
O clima só melhorou quando as pessoas que poderiam entrar na sala, o que excluiu os jornalistas que não iriam fazer imagens e uma parcela da comitiva, começou a se retirar. Lula e Kadafi jantaram juntos ontem.
Hoje, o presidente brasileiro participa do encerramento do Encontro Empresarial no hotel Corinthia Bab-Africa, e de uma reunião ampliada na residência de Bab-Aziziya.Na Líbia, de acordo com estudos do Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, há a possibilidade de incrementar o intercâmbio comercial e de investimentos em vários setores, entre eles, no campo da eletricidade e transportes.
Lula encerra sua viagem ao Oriente Médio e ao Norte da África hoje, quando retorna ao Brasil. A cerimônia oficial de despedida está prevista para 18h45, hora local, no Aeroporto de Meitiga. Por volta das 19h, hora local, o presidente Lula retorna ao Brasil, com previsão de chegada a Brasília na madrugada de amanhã.
Visita ao sarcófago de Tutancamon
Cairo
(Egito) – Por pouco mais de uma hora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o museu do Cairo onde se encontra o sarcófago do rei Tutancamon e múmias de faraós egípcios. Turistas do mundo inteiro não escondiam a curiosidade em relação a Lula. Um exemplo foi o italiano Diógene Francoso, que diz ter ficado emocionado em conhecer o presidente brasileiro, que lhe retribuiu com um autógrafo.Lula encontrou também a brasileira Cláudia Bráz, da cidade de Carmo do Paranaíba. “Vi o tumulto no museu e percebi que alguém importante estava visitando o lugar. Reparei que era o presidente.” Cláudia aproveitou a oportunidade e tirou uma foto ao lado de Lula e da primeira-dama Marisa Letícia.
O momento em que Lula mais se surpreendeu foi quando viu a múmia do faraó Ramsés II. O egípcio teve 200 filhos e 60 mulheres. Ramsés II governou o Egito por 67 anos, há aproximadamente 3.500 anos. Lula fez uma brincadeira com seu assessor de imprensa, Ricardo Kotsho. “Kotsho, em vida, tem menos cabelo do que ele (Ramsés II)”, disse.
Brasil e Egito perto de acordo
Cairo
(Egito) – O Brasil está próximo de fechar um acordo de livre comércio com o Egito. De acordo com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, as conversas com o governo egípcio estão adiantadas.Conforme o ministro, deve ser feito, em primeiro lugar, um acordo em que as concessões feitas pelo Brasil e pelo Egito vão sendo montadas aos poucos. Ainda de acordo com Furlan, o tratado poderia beneficiar importantes setores da economia brasileira, tais como o automotivo, que enfrenta pesada taxação em suas importações. O ministro informou ainda que esse acordo com o Egito deve ser finalizado em 2004, bem como acordos Mercosul -África do Sul, Pacto Andino, União Européia e Alca.
