Lula critica os EUA e pede reforma na ONU

Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem em seu discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU o multilateralismo e a importância da instituição para a solução dos conflitos internacionais, em uma crítica indireta à política externa dos Estados Unidos.

O presidente brasileiro também convocou os membros da Organização das Nações Unidas a uma reforma da instituição. “As tragédias do Iraque e do Oriente Médio só encontrarão solução num quadro multilateral, em que a ONU tenha um papel central”, disse Lula. “Pode-se, talvez, vencer uma guerra isoladamente, mas não se pode construir a paz duradoura sem o concurso de todos”, disse o presidente do Brasil.

Lula afirmou que existe uma “preocupante” tendência de desacreditar a ONU. Segundo ele, a “ONU não foi concebida para remover os escombros dos conflitos que ela não pôde evitar, por mais valioso que seja o seu trabalho humanitário”. E acrescentou, com uma nova crítica à política do presidente norte-americano, George W. Bush, sem no entanto mencioná-lo: “Não podemos confiar mais na ação militar do que nas instituições que criamos com a visão da história e à luz da razão”.

Para que a ONU cumpra seu papel, Lula destacou a importância de uma reforma da instituição, defendida também, de forma veemente, pelo secretário-geral Kofi Anan, em discurso minutos antes de Lula. “A reforma da ONU tornou-se um imperativo, diante do risco de retrocesso no ordenamento político internacional”, afirmou Lula, pedindo principalmente a mudanças no Conselho de Segurança da instituição, que deve ser equipado para enfrentar crises e lidar com as ameaças à paz.

Ele aproveitou para defender a ampliação dos membros permanentes do conselho, reiterando uma antiga reivindicação do governo brasileiro de participar do órgão. “O Brasil está pronto a dar sua contribuição”, disse, fazendo campanha para o País e lembrando dos diversos apoios que o País recebeu de governantes da América do Sul.

O presidente brasileiro defendeu também o combate à fome em nível mundial, durante seu discurso. “Erradicar a fome no mundo é imperativo moral e político e todos sabemos que é factível, se houver, de fato, vontade política de realizá-lo”, disse Lula a dezenas de chefes de governo e de Estado. “A fome é uma emergência e como tal deve ser tratada.”

Ele sugeriu a criação de um Comitê Mundial de Combate à Fome na ONU para motivar contribuições financeiras à causa. O presidente lembrou sua experiência de vida e trajetória política para ressaltar a importância do diálogo. “Nunca me esquecerei da lição insuperável de Gandhi: ?A violência, quando parece produzir o bem, é um bem temporário; enquanto o mal que faz é permanente”.

Brasil condena o protecionismo

Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem, na Assembléia-Geral da ONU, as políticas protecionistas dos países desenvolvidos e sustentou que o Brasil será favorável apenas a um processo de liberalização comercial que possa oferecer condições simétricas de competitividade e melhoria na situação social do País. Ciente das sucessivas acusações de autoridades dos Estados Unidos, o presidente valeu-se de sua exposição no plenário da ONU para sair em defesa do G-21, países em desenvolvimento, sob a liderança do Brasil, criada para enfrentar as posições americanas e européias nas negociações agrícolas da Rodada Doha da OMC.

“O protecionismo dos países ricos penaliza injustamente os produtores eficientes das nações em desenvolvimento. Além disso, é hoje o maior obstáculo para que o mundo possa ter uma nova época de progresso econômico e social”, declarou Lula. “Somos favoráveis ao livre comércio, desde que tenhamos oportunidades iguais de competir. A liberalização deve ocorrer sem que os países sejam privados de sua capacidade de definir políticas nos campos industrial, tecnológico, social e ambiental”, disse.

Ao resumir o modelo de estabilidade econômica e de inclusão social que pretende levar adiante em seu governo, Lula enfatizou que as negociações comerciais que envolvem o País “não são um fim em si mesmo”. Em seu raciocínio, elas devem estar orientadas principalmente à promoção do desenvolvimento, à superação da pobreza e à distribuição das riquezas.

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