Brasília
– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem em sua residência temporária, na Granja do Torto, dois presidentes de países do Mercosul: o uruguaio Jorge Batlle e o paraguaio, Luiz González Macchi. O paraguaio afirmou após o encontro que os recentes acontecimentos em seu país não devem abalar a democracia nem o Mercosul. “Podemos assegurar que o Paraguai vai continuar no Mercosul e que não há nenhuma possibilidade de que o Paraguai se desvie do caminho da democracia”, afirmou.Macchi relatou que, no encontro com Lula, narrou-lhe os acontecimentos da manhã de ontem no Paraguai, onde a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de um processo de impeachment contra ele. O presidente paraguaio é acusado de possuir um carro de luxo roubado e de fazer mau uso de recursos públicos. Na entrevista, Macchi disse ter explicado a Lula que o julgamento do caso será feito pelo Senado. Para que Macchi seja efetivamente cassado, é necessário que a acusação seja aprovada por dois terços dos senadores. “Cremos efetivamente que esse julgamento político não vai prosperar no Senado, mas, se prosperar, o presidente Macchi vai acabar na plenitude” afirmou Macchi.
O presidente paraguaio acrescentou que, no encontro com Lula, na Granja do Torto, foram constatados como pontos comuns a avaliação de que “não existe atividade terrorista” na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) e a de que é necessário aprofundar o Mercosul. Os dois presidentes avaliaram ainda, segundo Macchi, que é necessário considerar a região de Foz do Iguaçu (PR), dos lados brasileiro e paraguaio, como uma “região comercial única”. Macchi relatou que convidou Lula a visitar o Paraguai em janeiro ou fevereiro de 2003.
Hoje Lula deverá encontrar-se com o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Köhler, que também se reunirá com o presidente Fernando Henrique Cardoso. A visita faz parte de um giro de Köhler por três países da América do Sul, incluindo a Colômbia e o Chile. O encontro com Lula está marcado para o sábado.
Em nota oficial, o FMI anunciou que a viagem de seu diretor-gerente se dá a convite dos governos sul-americanos e seu objetivo é discutir temas de interesse da região. A visita de Köhler ocorre a quatro dias de um encontro entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que está marcado para a próxima terça-feira, na Casa Branca. Para o diretor-gerente do FMI, sua visita a Brasília tem importância especial, já que ele deseja ouvir pessoalmente o compromisso de Lula de adotar “políticas apropriadas”, que lhe permitirão ter acesso à maior parte do empréstimo de 30 bilhões de dólares anunciado para o Brasil em setembro passado.
O Governo FHC tem possibilidades de usar seis bilhões de dólares do empréstimo até o encerramento de seu mandato, em primeiro de janeiro de 2003. O restante do dinheiro será destinado ao novo governo, mediante aprovação prévia da política econômica de Lula pelo FMI.