Damasco (Síria) – Uma platéia formada por empresários sírios e brasileiros ouviu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar mais empenho para estimular as relações comerciais entre os dois países. “Quando se trata de negócio, vale mais a ousadia e a persistência do que a intenção”, disse Lula. O presidente se referia ao fraco desempenho do fluxo comercial entre os dois países, que chegou em 2002 a US$ 90 milhões. As exportações brasileiras destinadas à Síria, no ano passado, não passaram de 1% do total.
Aos empresários sírios, Lula afirmou que é preciso reaprender com seus antepassados, que largaram tudo no país natal e seguiram para o Brasil sem medo do que vinha pela frente. Ressaltou, também, que nações em desenvolvimento, como o Brasil e a Síria, devem ser pró-ativas e não esperem que ninguém faça nada por elas. “Os países não podem esperar ser descobertos. Precisamos sair ao mundo para fazer o que ninguém faz por nós”, reforçou o presidente.
Lula disse ainda que a solução para sair de um comércio “modesto” é a diversificação da pauta dos produtos. Lembrou também que há uma série de oportunidades de investimentos. Citou a agroindústria, os transportes, a engenharia civil e o setor farmacêutico. Lula lembrou que os países da América do Sul, aos poucos, estão se integrando e que isso vai reforçar o poder das negociações entre blocos, entre eles o Mercosul. Além disso, o presidente ressaltou a importância do setor de biotecnologia.
O presidente sírio, Bashar Al-Assad, concordou com Lula. Em discurso, afirmou que há uma série de falhas que atrapalham o incremento das negociações entre os dois países, mas que é possível contorná-los. Disse que acredita numa aproximação mais intensa, principalmente nos setores de metalurgia, transportes marítimos e informática.
Parceria
O primeiro acordo do Brasil com a Síria já foi firmado ontem. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que a empresa brasileira Cristalserve, de Ribeirão Preto, fará uma parceria com uma firma local a fim de instalar uma refinaria de açúcar na Síria. Os investimentos serão de US$ 150 milhões. A empresa brasileira fornecerá os equipamentos para a instalação da unidade e a matéria-prima. “Existe um potencial de exportarmos US$ 200 milhões de dólares por ano”, salientou.
De acordo com Furlan, o presidente sírio, Bashar Al-Assad, propôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a Síria sirva de base logística às exportações do Brasil para o Oriente Médio.
Foram assinados também acordos de cooperação em quatro áreas: cultura, esporte, turismo e fitossanitário.
Ministro tenta esclarecer escolha
Damasco
(Síria) – O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que a escolha da escola de samba Gaviões da Fiel para representar o Brasil no exterior seguiu critérios financeiros. Segundo ele, os representantes da agremiação paulista viajaram para o Oriente Médio pela metade do valor que seria pago à bateria da Portela.De acordo com o ministro, a escolha foi feita pela Agência de Promoção a Exportações (Apex). “A questão é que na hora de assumir os custos todo mundo tem restrição orçamentária. E no fim, o governo teve que optar por um custo menor”, declarou Furlan.
No entanto, o presidente da Gaviões da Fiel, Ronaldo Pinto, disse ter sabido que a escolha foi do próprio presidente Lula, que é corintiano. A escola vai embarcar uma trupe de 19 pessoas – mestre-sala e porta-bandeira, puxador, bateria, cavaquinho e violão – para os Emirados Árabes, reunindo-se à comitiva de Lula, para uma apresentação no domingo, a um cachê de US$ 5 mil. O preço é três vezes maior que o cobrado normalmente pela Gaviões.
Presidente critica ocupação israelense
Damasco
(Síria) – A menos de um mês do Brasil assumir uma cadeira temporária no Conselho de Segurança das Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, em jantar oferecido ontem pelo presidente sírio em Damasco, a ocupação de territórios palestinos, a manutenção e a expansão de assentamentos, que taxou de “inaceitáveis”. Apoiou iniciativa árabe da paz, que, segundo ele, oferece alternativas convergentes para um estado palestino independente. “O direito de um povo exercer soberania sobre seu território é inalienável.”Além disso, Lula afirmou que o Brasil defenderá, por meio de voto, na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, a devolução à Síria das Colinas de Golã, atualmente sob o controle de Israel. Lamentou a guerra no Iraque e cobrou maior envolvimento da ONU e Estados árabes no esforço de reconstrução daquele país.
O presidente brasileiro defendeu, inclusive, a reforma das Nações Unidas, especialmente do Conselho de Segurança, contando com representantes de países em desenvolvimento entre os seus membros permanentes.
Tensão histórica
Bashar Al-Assad, por sua vez, lembrou que há 50 anos a situação entre israelenses e árabes tem piorado. “Tudo isso produto da ocupação de territórios árabes por parte de Israel e de sua negativa quanto à aceitação dos requisitos da paz justa e abrangente”, discursou.
