Brasília – Em sua viagem à Coréia e ao Japão, até dia 28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está acompanhado pelos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim; da Fazenda, Antônio Palocci; da Agricultura, Roberto Rodrigues; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e de Minas e Energia, Dilma Rousseff. No Japão, segundo decreto do presidente publicado ontem no Diário Oficial, também o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, fará parte da delegação. O grande desafio do presidente Lula em Tóquio, na quinta e na sexta-feira, será convencer investidores, empresários e o governo japonês de que o Brasil poderá se converter em fornecedor confiável de álcool anidro para misturar à gasolina.
Além dos ministros e da primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, integram a comitiva os governadores do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), e do Ceará, Lúcio Alcântara. Fazem parte, ainda, da delegação, o vice-líder governista Beto Albuquerque (PTB-RS) e os deputados Hidekazu Takayama (PTB-PR) e João Caldas (PL-AL); o presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos Juan Quirós, e os convidados especiais Kenji Iryo, Muth Iryo e Sérgio Ferreira.
Além disso, na Coréia, a delegação será também integrada pelo embaixador brasileiro naquele país, Pedro Paulo Pinto Assunção, e, no Japão, além do embaixador brasileiro naquele país, Ivan Oliveira Cannabrava, pelo senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO) e pelo deputado João Hermann Neto (PDT-SP).
Três ministros, considerados importantes na estratégia do governo brasileiro de atrair investimentos coreanos e japoneses para o Brasil, que originalmente integrariam a delegação do presidente em sua viagem aos dois países, ficaram em Brasília, incumbidos por ele de evitar a formalização da CPI mista do Congresso para investigar denúncias de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). São eles José Dirceu (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). Walfrido Mares Guia (Turismo) somente se integrará à delegação no Japão porque, segundo sua assessoria, ele está participando, em Paris, de eventos ligados ao Ano do Brasil na França.
Álcool
O grande desafio do presidente Lula em Tóquio, na quinta e na sexta-feiras, será convencer investidores, empresários e o governo japonês de que o Brasil poderá se converter em fornecedor confiável de álcool anidro para misturar à gasolina. O problema é que a equipe de governo não está segura da capacidade do setor sucroalcooleiro nacional de atender à demanda japonesa, sem riscos de interrupção dos embarques ou de elevação abrupta de preços, como já se observou no País. De um lado, os usineiros asseguram que haverá álcool suficiente para a demanda japonesa, estimada em 1,8 bilhão de litros ao ano. De outro, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, advertiu que há ?preocupações?.
Na pauta, venda de 1,8 bilhão de litros de álcool
Brasília – O tema abastecimento e a preservação de uma relação competitiva entre os preços do álcool e o da gasolina será um dos principais pontos das conversas entre o presidente Lula e o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, conforme relatou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Lula reconhece que há divergências no assunto entre os ministros Furlan e Rodrigues. Em encontro com usineiros, há pouco mais de um mês, Furlan teria cobrado dos produtores garantias de que não faltará álcool para os japoneses, mercado considerado estratégico, já que a decisão do Japão de adotar o álcool deverá balizar a de outros países da região.
Os próprios japoneses cobraram garantias quando estiveram no País, em setembro. Koizumi visitou uma usina de álcool no interior paulista e ficou impressionado. Daí a preocupação de Furlan em ter garantias concretas. O consultor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Alfred Szwart, garante: ?Podemos fechar contratos por períodos de até 10 anos com o Japão para que as duas partes se sintam mais seguras?. Lula deverá apresentar uma proposta-modelo aos japoneses para contornar o problema brasileiro e garantir contratos com o Japão. Terá, para isso, a ajuda de Rodrigues e Furlan, mas os ministros não esperam que o contrato seja assinado agora. Furlan explicou que a proposta consiste na definição de módulos de 60 mil hectares para a produção canavieira, especialmente em áreas irrigadas do Nordeste, cujas safras seriam destinadas a usinas de álcool. Cada módulo garantiria, no longo prazo, 480 mil litros de álcool ao ano, exclusivamente ao Japão. Isso, porém, exige investimentos de US$ 150 milhões. A negociação tem peso especial, pois o Japão lidera os países asiáticos na direção do mercado de etanol. Em agosto, o governo japonês autorizou a mistura opcional de 3% de álcool à gasolina – o que significa a importação potencial de 1,8 bilhão de litros ao ano – e avalia a possibilidade de torná-la obrigatória.
Japoneses se adaptam
Toyohashi – As cidades japonesas que abrigam maior número de brasileiros estão se equipando para atender demandas específicas dessa comunidade. As ações incluem placas e material de divulgação e informação em português, além de tradutores nas repartições públicas, atendimento especial para crianças brasileiras com dificuldades escolares e serviços de assistência social que incluem cursos de japonês dados por voluntários, assessoria jurídica e contábil. Quinze prefeituras das cidades com maior comunidade de brasileiros já formam há quatro anos uma associação para procurar soluções para problemas em comum, a Gaikokujin Shuju Toshi Kaigui. Além disso, atualmente, os prefeitos dessas cidades negociam com o governo japonês mudanças na legislação para atender os brasileiros em áreas como saúde e educação. ?A mudança nas regras japonesas é muito difícil, mas estamos trabalhando nisso. Nós reunimos os representantes das 15 cidades a cada três meses para fazer um debate e tentar achar soluções comuns?, afirma Shinji Sato, diretor da divisão de Relações Internacionais da Prefeitura de Toyohashi. A cidade, que se localiza na província de Aichi, a sudoeste de Tóquio, tem hoje 12 mil brasileiros entre seus 380 mil habitantes. Sato concede a entrevista enquanto assiste à primeira aula de uma escolinha de futebol para crianças brasileiras, num campo de areia vizinho a uma escola municipal cedida para a atividade. ?Estamos especialmente preocupados em pensar que ajuda é possível dar aos jovens e crianças?, explica Sato.
Lula visita dekasseguis
Tóquio – No próximo sábado, pela primeira vez um presidente terá um encontro com a comunidade que, em menos de duas décadas, já é a terceira maior entre os brasileiros no exterior só perde para Estados Unidos e Paraguai. Em Nagoya, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversará com representantes dos dekassegui, ou burajirujin, como são conhecidos no Japão os mais de 270 mil brasileiros que vivem hoje no país. Em menos de duas décadas, o número de imigrantes brasileiros no Japão já superou o total de japoneses que se transferiram para o Brasil em quase um século. Dados do governo japonês indicam que 274,7 mil brasileiros já viviam no país no fim de 2003. Se incluídos os imigrantes com dupla nacionalidade, esse número fica ainda maior. Desde 1908, considerado marco inicial desse movimento migratório em direção ao Brasil, vieram para cá cerca de 250 mil pessoas.
Segundo o livro Brasileiros no Japão O Elo Humano das Relações Exteriores, de Maria Edileuza Fontenelle Reis, foi em 1985 que apareceram em jornais da comunidade japonesa no Brasil os primeiros anúncios recrutando imigrantes para trabalhar no país natal. Era uma tentativa das indústrias japonesas de solucionar o problema da falta de mão-de-obra ocasionado pela rápida expansão que a economia do país registrava na época. Ao mesmo tempo, adotar o critério de descendência permitiu aos japoneses afastar a pressão da imigração de outros países asiáticos em situação de superpopulação e economias menos dinâmicas na época, como Filipinas, Coréia ou China.
