Exatas 24 horas depois de a executiva nacional do PMDB ter remarcado para 19 de março as eleições prévias que escolherão o candidato do partido ao Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu em audiência, no final da manhã de ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP). Lula queria conversar sobre a conjuntura política, sobre o ?jogo interno? do PMDB e o risco de as prévias partidárias resultarem na candidatura presidencial de Anthony Garotinho (RJ).
O cenário ideal para o Planalto é a parceria oficial com o PMDB na eleição presidencial. Segundo um importante interlocutor do presidente, no entanto, ele já definiu que quer o partido a seu lado de qualquer jeito. Se não for possível desmontar a candidatura própria e fazer uma chapa conjunta, o governo trabalhará para fechar uma aliança branca com setores do PMDB nos estados. A idéia é, na pior hipótese, repetir o cenário da eleição de 2002, quando o PMDB compôs a vice do tucano José Serra e, mesmo assim, regionais do partido em 15 estados fecharam com Lula. ?Em qualquer cenário o presidente terá o apoio de fatia expressiva do partido?, resume um dirigente peemedebista.
Para tranqüilizar o presidente, Renan deixou claro que ?com ou sem candidato ao Planalto, o PMDB está obrigado a colaborar com a estabilidade do governo e do País, ainda que com postura crítica e independente?. A ala governista do partido avalia que ainda tem muita água para rolar até a convenção nacional de junho, que oficializará a candidatura presidencial do partido. E, mesmo que as prévias apontem o candidato, eles não consideram a candidatura própria um fato consumado.
Os aliados de Lula acreditam que o pior cenário será o da vitória de Garotinho nas prévias. Por isso concordaram em adiar a consulta por duas semanas e dar mais tempo para que o adversário, o governador gaúcho Germano Rigotto, trabalhasse o apoio das bases, uma vez que Garotinho está em campanha há 90 dias. Ao mesmo tempo, porém, os governistas estão convencidos de que o ex-governador do Rio ?bateu no teto? e não deverá ultrapassar os 15% na preferência do eleitorado nacional. Nesse caso, a tendência é o candidato acabar abandonado por boa parte do partido, como ocorreu com Ulysses Guimarães em 1989 e com Orestes Quércia em 1994.