Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez no último domingo seu primeiro pronunciamento em cadeia de rádio e TV em 2005. Lula fez um balanço da metade de seu governo e disse que este ano será um ano de crescimento e de muito trabalho. O presidente destacou o aumento do salário mínimo a partir de março e a aprovação do projeto que cria as Parceria Público Privadas (PPPs) como ações importantes em 2005. "Esse é o grande ano para o País provar que é possível, mantendo a economia equilibrada e as contas públicas em ordem, garantir um crescimento econômico forte, com geração de empregos e distribuição de renda", disse o presidente.
O pronunciamento durou dez minutos. Lula começou falando das dificuldades enfrentadas por empresários brasileiros em 2002, quando, segundo ele, era difícil conseguir crédito no exterior pela desconfiança que o mundo tinha da economia brasileira. O presidente lembrou que foi um ano difícil, mas importante para o País, já que foi a partir deste momento que o povo brasileiro decidiu apostar na mudança e em novos caminhos. "Muitas pessoas não compreenderam algumas de nossas decisões. Afinal, o que todos querem ver é resultados rápidos. Entretanto, o caminho que nós escolhemos não foi o caminho da rapidez, muitas vezes superficial. O caminho que escolhemos foi o caminho das mudanças verdadeiras e profundas. E essas demoram um pouco mais para mostrar os seus resultados, mas quando esses resultados aparecem, são sólidos e duradouros", declarou Lula.
Em seguida, o locutor – o mesmo da campanha presidencial de Lula – afirmou que 2002 foi o ano em que a esperança venceu o medo, reeditando o jargão da campanha petista. Lula comentou, então, 2003, segundo ele "o ano da paciência, de medidas duras e de muitos sacrifícios". Para o presidente, o ano de 2004 foi da arrancada. Ano em que, segundo ele, as medidas firmes de 2003 começaram a dar resultado e a confiança dos brasileiros, dos empresários e dos comerciantes voltou a crescer. O governo controlou seus gastos e surpreendeu os outros países. Houve aumento nas exportações e na criação de empregos. "Em dois anos visitei mais de 35 países, abrindo novos mercados para os produtos brasileiros. Ao mesmo tempo, aqui dentro, nossa indústria começou a produzir mais, nosso comércio começou a vender mais e, com isso, depois de muitos anos, o Brasil, ao invés de desemprego, começou finalmente a dar início a um novo ciclo de contratações, criando, somente em 2004, quase 2 milhões de novos empregos com carteira assinada, o que não acontecia há mais de dez anos. Enquanto isso, as nossas exportações continuavam batendo um recorde atrás de outro", disse o presidente.
Mesmo otimista, Lula reconheceu que ainda há problemas. "Não estou, de forma nenhuma, dizendo que estão todos resolvidos os problemas do Brasil. De jeito nenhum! Muita coisa ainda precisa ser feita – e estamos fazendo – para que a nossa economia continue crescendo, gerando cada vez mais empregos de qualidade. E o mais importante: por um longo período. Chega de riscos, chega de sobressaltos", afirmou o presidente, lembrando que o crescimento esperado pelo governo em 2004 era de 3,5%, mas a taxa verificada deve ultrapassar 5%.
O presidente fez um balanço positivo de 2004. Disse que o Brasil está mais tranqüilo, mais confiante e mais seguro quanto ao seu futuro. Lula ressaltou o resultado das últimas pesquisas de opinião que mostram a aprovação de seu governo pela maioria da população.
Sobre o salário mínimo, Lula afirmou que o aumento real – acima da inflação – será de quase 10%. "O novo salário mínimo terá um aumento real, ou seja, um aumento acima da inflação. Isso sem descuidar um só instante do controle da inflação, que é o que garante de verdade o poder de compra do seu salário", argumentou Lula.
Jornal francês critica
Rio – O Libération, jornal francês de esquerda, publicou ontem reportagem comentando a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área social. Segundo o jornal, a declaração do presidente brasileiro de que 2005 será o ano do desenvolvimento e da inclusão social foi uma forma de admitir que, até o momento, o seu governo "não esteve à altura das expectativas".
Ainda de acordo com o jornal, o governo Lula chega à metade de seu mandato "ainda amigo do rigor" na área econômica. Por duas vezes, desde que assumiu o poder, a política econômica adotada foi muito rigorosa, sem que isso fosse um pedido do Fundo Monetário Intenacional (FMI). Segundo a reportagem, com o crescimento, o rigor econômico deveria permitir o financiamento, nos próximos dois anos, de áreas como Educação, Saúde e Segurança.
O Libération critica ainda a atual política ambiental, citando como aspectos negativos a legalização das culturas transgênicas de soja e o fato de que o governo fecha os olhos à destruição da Amazônia a fim de agradar a agroindústria. Por outro lado, o jornal francês elogia alguns avanços do governo Lula como o Bolsa Família, programa social que deve atingir 11,4 milhões de famílias até 2006.