Santiago
– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva antes de embarcar ontem do Chile para o Brasil, fez ainda mistério em vez de esclarecer as dúvidas sobre seu ministério e o presidente do Banco Central. “Já tenho quase todos os nomes”, afirmou. “Mas não tenho pressa”. Sobre o presidente do BC, ele disse que não deverá convidar o atual Armino Fraga para continuar no cargo.Lula disse que vai apresentar os nomes de sua equipe de governo à Executiva do PT para, só depois, divulgá-los ao público. A apresentação dos nomes deve ocorrer na reunião da Executiva marcada para ãmanhã. Como não está marcada nenhuma outra reunião da Executiva para a primeira quinzena de dezembro, o anúncio deve ser feito mesmo nesta sexta-feira. Lula reiterou que não considera imprescindível que seus ministros sejam anunciados antes da viagem que fará aos Estados Unidos, no dia 10, durante a qual manterá encontro com o presidente George W. Bush.
Para Lula, a imprensa só fala em ministros e no presidente do Banco Central, mas pouca gente especula sobre nomes que dirigirão as estatais, como a Petrobras, e bancos oficiais, como a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Quantos ministérios vale uma Petrobras, um BNDES?”, perguntou o presidente eleito, ressaltando que sua intenção será valorizar os funcionários de carreira. Lula criticou as escolhas “políticas”.
Para exemplificar a valorização de funcionários de carreira, Lula lembrou que, quando era metalúrgico, certa vez a empresa onde trabalhava adquiriu um torno considerado de última geração. Entretanto, seus ex-patrões contrataram um operário novato para operá-lo, frustrando os mais antigos, que queriam manejar o equipamento. Lula chegou ontem a São Paulo e viajará hoje para Brasília. A expectativa é de que já anuncie pelo menos alguns nomes, entre eles o do presidente do Banco Central.
Ontem aumentaram os boatos sobre a possibilidade de o atual presidente do BC, Armínio Fraga, ser mantido temporariamente no posto. Entretanto, o próprio Lula, ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, tratou de desmentir a versão, dizendo respeitar Fraga, mas que a hora é de um novo nome. Lula passou o restante do dia em São Paulo, no antigo comitê de campanha, reunido com assessores. Questionado, mais uma vez, sobre a divulgação de nomes para seu ministério, o presidente eleito foi enfático: “Nenhum nome será anunciado hoje (ontem)”.
Hoje, Lula embarca para Brasília onde manterá vários encontros políticos. Ele receberá, na Granja do Torto, os presidentes do Uruguai, Paraguai, Bolívia e Venezuela. Em seguida, o presidente eleito receberá representantes da Confederação Andina de Financiamento, quando devem ser anunciados recursos para o Brasil. À noite, Lula participará de jantar organizado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que vai reunir a cúpula do Mercosul.
No sábado, tem encontro confirmado com o diretor-geral do FMI, Horst Koehler. No dia 9, Lula embarca para Washington.
Dirceu: ministério será de primeira
Brasília
– O presidente do Partido dos Trabalhadores, deputado federal José Dirceu, disse ontem que o povo brasileiro ficará surpreso com a qualidade do ministério do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Será uma grata surpresa para o país o ministério de Lula”, afirmou. Mas ao ser perguntado sobre quando seriam anunciados os nomes dos ministros, Dirceu disse que caberá somente a Lula a divulgação, no momento adequado.Por outro lado, Dirceu deixou claro que todos os partidos que apoiaram Lula nos dois turnos das eleições serão contemplados com cargos no primeiro escalão do governo. “Nós vamos compor o governo com todos aqueles que apoiaram a nossa candidatura no primeiro e no segundo turno, e isso está sendo feito dentro do prazo que nós temos”, disse. Segundo o presidente do PT, ainda há tempo hábil para a indicação do novo presidente do Banco Central e demais diretores da instituição, cujos nomes precisarão ser sabatinados pelo Senado antes do recesso parlamentar, que começa no dia 15 deste mês.
Dirceu disse que o presidente eleito está fazendo consultas e que o PT continua conversando com aliados na Câmara e no Senado.