Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou ontem o Exército por não esmorecer “diante de circunstâncias adversas” e agradeceu o apoio dos militares a programas sociais como o Fome Zero. De terno verde-oliva e acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, ele participou da comemoração antecipada do Dia do Exército, no Quartel-General, em Brasília. Numa solenidade sem discursos, a mensagem do presidente foi lida por uma locutora. Ciente da falta de investimentos e do orçamento minguado para o setor, Lula não poupou elogios e agradeceu o “esforço e o entusiasmo, sem esmorecimento diante de circunstâncias adversas, para buscar a construção de um futuro digno e forte”.
Na ordem do dia, também lida por um locutor, o comandante do Exército, general Francisco Roberto de Albuquerque, fez menção às “dificuldades conjunturais”, reafirmando que são desafios a ser enfrentados com “disciplina consciente e respeito”. O Dia do Exército é 19 de abril.
Compareceram à comemoração o vice-presidente José Alencar, sete ministros e parlamentares governistas e da oposição. O presidente entregou algumas das 260 condecorações da Ordem do Mérito Militar. E não disfarçou a dor provocada pela bursite nos dois ombros, problema que o presidente pretende resolver com cirurgia, ainda sem data definida.
Diante do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), Lula deixou cair a medalha que lhe entregaria, mas foi rápido o suficiente para apanhá-la antes que chegasse ao chão. Virgílio, um dos mais ferrenhos críticos do novo governo, até brincou: “Ô presidente, vai parecer discriminação”. E ouviu de volta: “Para não deixar cair (a medalha), me arrebentei de vez na bursite”, queixou-se Lula, segundo relato do senador. “Vi a dor no rosto dele”, contou Virgílio.
De vítima da truculência fardada na época da ditadura a chefe supremo das Forças Armadas, Lula acompanha as divergências dentro do governo sobre um tema especialmente caro aos militares: o sistema de aposentadorias e pensões da corporação, que será objeto da reforma da Previdência. De um lado, o ministro da Defesa, José Viegas Filho, defende um sistema diferenciado para a categoria, enquanto a proposta preparada pelo ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, prevê aumento das contribuições.
Ontem o comandante do Exército deu seu recado na ordem do dia, ao referir-se ao perfil da tropa: “Seus integrantes são diferenciados servidores que possibilitam ao Brasil projetar-se, defender a própria integridade e proteger os interesses do seu povo”. Lula já se comprometeu a garantir recursos pelo menos para que os 69 mil recrutas possam completar o serviço militar obrigatório até o fim do ano – em julho, mais 4.500 devem ingressar na Força.
Assim, o governo evitaria o fiasco do ano passado, quando 44 mil recrutas tiveram de ser dispensados antes do tempo por economia.