Havana – A série de doze acordos firmados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, com seu colega Fidel Castro, de Cuba, anteontem e ontem, abrangendo desde a cooperação técnica até o intercâmbio comercial, tem um objetivo claro: contribuir para tirar o regime socialista de Fidel Castro do isolamento em que se encontra há 40 anos.

Entre os atos firmados, está o que prevê que Brasil e Cuba passarão a trocar tecnologias para a fabricação de medicamentos, como as vacinas cubanas fabricadas com tecnologia brasileira. Ainda, na área de saúde, haverá intercâmbio de profissionais, com a vinda de médicos brasileiros para Cuba e vice-versa. No setor de esportes, os dois países também vão fortalecer o intercâmbio, com os brasileiros ensinando futebol e os cubanos dando aulas de ginástica e de atletismo.

A instalação de uma base da Petrobras, para viabilizar a produção de álcool, que a partir de Cuba seria exportado para outros países, está sendo estudada pelos governos. Uma linha de crédito do BNDES, de US$ 20 milhões, também fez parte de um acordo para a produção de álcool-combustível. Ontem, no segundo e último dia de sua visita a Cuba, Lula apontou como papel do Brasil, ajudar os países da América Latina a se desenvolver. “Vamos sair do discurso para a prática. Sempre acreditei que o Brasil, como a maior economia e o país mais industrializado, tem de fazer gestos de generosidade”, disse ele ao se encontrar com um grupo de cerca de 80 brasileiros que fazem curso superior na ilha de Fidel Castro.

“Em muita coisa, nós temos de tomar a iniciativa, até mesmo financiando obras em países que podem menos. Se queremos, por exemplo, que o Paraguai seja um país industrializado, podemos financiar projetos no Paraguai”, disse Lula, que recebeu os universitários na residência especialmente reservada pelo regime de Fidel para hospedar chefes de Estado estrangeiros.

O presidente brasileiro anunciou a assinatura de um acordo com o governo cubano para facilitar a vida dos estudantes que pagam para fazer na ilha, cursos como os de medicina, psicologia e artes. Ficou acertado que eles não precisarão mais gastar nada com a universidade, passando a receber comida, alojamento e uma bolsa mensal de 100 pesos, o equivalente a US$ 4. A mudança representará uma economia significativa, já que o curso de medicina, o mais procurado pelos brasileiros, pode custar até US$ 50 mil ao longo de seis anos.

Antes do encontro com estudantes, Lula recebera o cardeal Jaime Ortega, que atua como intermediário entre o regime local e seus dissidentes. Mais tarde, Lula participou, ao lado de Fidel, de uma cerimônia no Monumento de José Marti, na Praça da Revolução.

“Levanto cada dia mais otimista”

Havana – “As coisas estão começando a andar do jeito que queremos no Brasil. Nos nove meses de governo, aprendi que o processo de transformação é difícil, mas apesar disso levanto a cada dia mais otimista: não há manchete negativa de jornal que me faça perder o otimismo. Acredito no que estou fazendo, acredito na minha equipe e na capacidade do povo brasileiro”. A ode ao otimismo foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro emocionado que teve ontem com cerca de 600 brasileiros que estudam em Cuba. Alguns choraram, outros pediram autógrafos.

Lula disse que no dia 28 de outubro anunciará a unificação das políticas sociais. “Vamos pegar as políticas hoje divididas e fazer uma politica unificada para que possamos atender mais gente no menor prazo possível”, disse o presidente. Ele explicou a nova política externa em prática, focada na união com a América Latina, África e Oriente Médio. A idéia é juntar força dos países no mesmo nível de desenvolvimento para melhor enfrentar as negociações com os EUA e União Européia.

“Queremos ganhar o jogo e este jogo é pesado”, disse Lula. “Ninguém vai ter dó de nós. Queremos ter uma política externa como nos EUA, que lute pelos nossos interesses, como eles fazem com os interesses deles”, resumiu o presidente. Seguindo esta política, Lula visita em novembro cinco países da África e, em dezembro, sete países do Oriente Médio.

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