Brasília – Após uma reforma política ampla, o sistema partidário brasileiro poderá ficar reduzido ao bipartidarismo ou, no máximo, a três partidos fortes, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao defender que esta reforma seja a prioridade do Congresso ano que vem. “O Brasil poderá ter de volta o bipartidarismo ou, no máximo, ter três partidos fortes e mais ideológicos, como já vem acontecendo no mundo”, disse Lula, citando exemplos da Espanha, Alemanha e Franca.
Nesta nova configuração político-partidária, Lula chegou a dizer que PT e PSDB estarão juntos, mas em seguida emendou que não estava falando em fusão dos dois partidos. “Com isso, alguns do PT e alguns do PSDB poderão estar juntos”, disse, seguindo um raciocínio que é feito também por tucanos.
O presidente disse que deve ser do Congresso e dos partidos a iniciativa de discutir a reforma política e deixou claro que não vai existir uma proposta de governo, tal como ocorreu com as reformas da previdência e tributária. Ele não demonstrou entusiasmo pela proposta de revisão constitucional para 2007 apresentada pelo deputado Luís Carlos Santos (PFL-SP). “Para quê vamos esperar 2007? Vamos fazer logo essa reforma política”, propôs.
Reeleição
Além de mudanças no sistema eleitoral que ele pregou em outras ocasiões, o presidente Lula voltou a falar em mandato de cinco ou seis anos, sem reeleição, para presidente da República. Sempre, no entanto, com o cuidado de insistir que nenhuma inovação deve atingir aquele que está cumprindo um mandato. Ou seja, ele descarta qualquer possibilidade de prorrogação de mandato, seja de presidente da República, governador ou vereador. “Isso foi feito no passado e ninguém aceita”, disse o presidente que, mais uma vez, condenou o mandato de quatro anos para presidente da República.
“Isso foi uma heresia que eles fizeram, para não dizer cretinice”, afirmou Lula, lembrando que o mandato de quatro anos para presidente foi definido em 93, na revisão constitucional porque, naquela ocasião, as pesquisas o apontavam como favorito na disputa presidencial, com 45% das intenções de votos.
O presidente disse, ainda, que nesta reforma política poderiam ser analisados mandatos de prefeitos e vereadores, de modo a evitar que, a cada dois anos, haja eleições no país. E brincou: “Eleição é bom, mas cansa. Só quem gosta de eleição a cada dois anos é o eleitor”, comentou.
Na avaliação feita aos jornalistas, o presidente Lula disse acreditar que a eleição municipal deste ano estará centrada na discussão de problemas locais e rechaçou a idéia de “campanha nacionalizada”. Mesmo com esse discurso, em determinado momento, ele reconheceu que uma eventual derrota do PT em São Paulo seria, também, uma derrota do governo. Mas tentou minimizar as consequências, usando, mais uma vez, uma metáfora com o futebol.
“Se o Juvenil do Santos perde um jogo, isso não afeta o Santos”, disse ele, observando, ainda, que “muita gente vai ao estádio para ver o Juvenil, mas não fica para o jogo do clube do Santos”. Ele quis dizer que a campanha municipal, às vezes, chama mais atenção do eleitor do que o governo federal, porque a administração de prefeitura trata de assuntos diretamente ligados aos problemas do morador das cidades.
Tasso concorda com presidente
Brasília
– O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que “faz todo sentido” a afirmação do presidente Lula de que pessoas do PT e do PSDB poderão estar juntas num único partido, num movimento posterior à reforma política que deve ser feita pelo Congresso no ano que vem. “Se olharmos o que o PT de hoje está falando e está fazendo, está mesmo muito próximo do que nós do PSDB fizemos no governo, mas o PT de hoje, e não o PT do passado”, afirmou.Tasso lembrou que ele próprio já falara na aproximação entre PT e PSDB, assim como o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 93, logo após o impeachment do então presidente Fernando Collor, Tasso Jereissati, como presidente nacional do PSDB, aproximou-se de Lula, então presidente nacional do PT, e juntos fizeram reuniões políticas no país. Naquela ocasião, Lula chegou a cogitar ter o cearense como seu vice. Mas o distanciamento dos dois partidos se deu quando o PT ficou contra o parlamentarismo defendido pelos tucanos.
Para Tasso, é impossível pensar nesta aproximação entre petistas e tucanos agora porque, segundo disse, “muitas feridas ainda estão abertas” – algumas, ainda, feridas de campanha. Mas ele afirmou que há, sim, afinidade ideológica entre o PSDB e o PT que está no governo.
“Dirceu é o capitão do time”, diz presidente
Brasília – O papel do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, na coordenação das ações de governo foi comparada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao de “capitão do time, aquele que conversa com o juiz”. O presidente não disse, mas ficou claro que o técnico desse time, o que escala a equipe, é ele próprio. Lula disse que decidiu entregar a Dirceu a coordenação de governo para resolver um problema que havia identificado – a demora nos resultados.
“Precisávamos resolver esse problema. Eu não posso conversar diariamente com tantos ministros”, disse o presidente, contando como decidiu criar o ministério da Coordenação Política, agora comandado por Aldo Rebelo. Bem-humorado, falante, o presidente Lula conversou durante quase três horas com jornalistas sobre assuntos de governo e política na noite de quarta-feira e deixou a impressão de que, agora, adotou o slogan “Lulinha é só amor”. Ele recorre a adjetivos como extraordinário, fantástico, excelente quando fala de seus ministros.
E justifica: “O cargo de presidente é tão importante que não posso me dar ao luxo de não gostar de alguém”, disse ele. O ministro José Dirceu é dos mais elogiados pelo presidente Lula, que destaca a capacidade de trabalho e o empenho do ministro com as tarefas que lhe são entregues. “O Dirceu respira, come e bebe trabalho e política. Se ele tiver com apendicite supurado e você disser que tem uma reunião do PPB, mesmo doente, ele vai lá”, disse.
Outros ministros recebem também muitos elogios do presidente Lula – alguns deles não são filiados ao PT. No topo da lista está o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, seguido de Luiz Fernando Furlan, Celso Amorim, Ciro Gomes, Gilberto Gil e Aldo Rebelo. Para cada um deles, o presidente tem um adjetivo.
“Estávamos procurando um ministro da Agricultura tão bom quanto o Pratini de Moraes (ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique) e me indicaram o Roberto Rodrigues, que é ótimo, uma liderança no setor e ainda canta boleros”, disse Lula.
O presidente contou que antes de escolher Aldo Rebelo para a liderança do governo na Câmara tinha dúvidas sobre como seria o desempenho de um filiado ao PCdoB quando a intenção era ampliar a base de apoio.
Defesa da política econômica
Brasília
– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma veemente defesa da política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele disse que, ao assumir a presidência, teria dois caminhos a seguir na condução econômica do país: perseguir metas altas de superávit primário para ter condições de ver os juros caindo lenta, mas progressivamente, de modo a segurar a inflação; ou abrir mais o país para as importações, o que poderia segurar preços, mas também afetaria o salário e o emprego dos trabalhadores no Brasil. Ele optou pelo primeiro caminho.Desta forma, o presidente Lula deixou claro que o aperto fiscal vaicontinuar e que as metas de superávit primário permanecerão altas pois, segundo afirmou, isso é necessário para garantir a credibilidade do Brasil interna e externamente. Lula disse estar certo de que 2004 será um ano “muito bom” e de crescimento da economia, mas não quis fazer apostas de números.
“Eu quero chegar ao meu credor e dizer que tenho pelo menos uma parte para pagar o que devo”, disse o presidente, explicando que o superávit deste ano, de 4,25% do PIB, é suficiente para pagar um terço dos juros da dívida brasileira.
Em jantar com cerca de 20 jornalistas, na noite de quarta-feira, opresidente Lula reafirmou que seu governo não tem um plano econômico diferente (como aconteceu no passado) e “menos ainda um Plano B”.
“O que querem dizer quando falam em mudança na políticaeconômica? É quando falam em gastar mais e em metas de superávit mais baixas? Pois existe gente na esquerda do PT que acha possível cumprirmos metas de superávits ainda mais altas. E mesmo que reduzíssemos o superávit, isso não significaria capacidade de novos investimentos importantes”, disse o presidente.
Enquanto comia churrasco, o presidente Lula fez questão de defender a decisão do governo de condicionar a liberação de R$ 6 bilhões do Orçamento à garantia da arrecadação e observou que esse condicionamento é inferior ao que o Congresso acresceu à proposta orçamentária do governo.