O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), brincou, alisou e ameaçou cabecear a bola do segundo gol do artilheiro Ronaldo na decisão da Copa do Mundo contra a Alemanha, ao chegar na madrugada de quarta-feira ao hotel onde passaria a noite. A bola estava em poder de administradores da Coca-Cola, que faziam um congresso em Brasília. Ao saber que Lula chegaria ao hotel, eles o aguardaram no hall, para mostrar-lhe o troféu.
Assim que viram Lula, furaram o bloqueio da Polícia Federal e levaram-lhe a bola do segundo gol do penta. Lula se limitou, por fim, a acariciá-la. O coordenador da equipe de transição, Antonio Palocci, ao contrário, chegou a dar pequenos chutes na bola.
De acordo com Jacques Correa, vice-presidente de assuntos institucionais da Coca-Cola, três bolas foram utilizadas na partida decisiva entre Brasil e Alemanha. Uma ficou com a Fifa, outra com a Alemanha e outra com o Brasil.
A destinada aos brasileiros foi entregue à Coca-Cola, por ser patrocinadora master da Copa do Mundo. Coube à empresa a bola do segundo gol, marcado por Ronaldo depois de um corta-luz de Rivado, o que acabou deixando o atacante cara-a-cara com o goleiro Oliver Khan.
Ronaldo chutou de primeira, no canto esquerdo do alemão. A bola está lavada e tem pequenos arranhões. Um deles, segundo os dirigentes da Coca-Cola, teria sido feito por um chute do lateral Roberto Carlos.
Como nada é de graça, os representantes da multinacional pretendiam dizer a Lula, no encontro, para a discussão sobre o pacto social, que é preciso assegurar maior mercado para a Coca-Cola. Eles se queixam das fábricas de refrigerantes conhecidos por “tubaínas”, que conseguem vender seus produtos de dois litros por cerca de R$ 1.
Segundo Correa, as empresas não pagam impostos. Ele se queixou de que as “tubaínas” dominam hoje cerca de 33% do mercado. “O mundo lá fora olha para o Brasil e sabe que isso está acontecendo”, disse ele.
A movimentação no hotel que hospedou Lula foi grande durante tudo o dia. A começar pelo café da manhã do presidente eleito com sua equipe de transição. À tarde, ao retornar para o hotel para encontrar o ex-presidente José Sarney, por pouco Lula não esbarrou no senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) que tinha ido ao local se encontrar com Márcio Thomaz Bastos, seu advogado.
Thomaz Bastos é amigo de Lula, além de ser cotado para integrar a equipe ministerial. Antonio Carlos encontrou Sarney e o presidente do PT, José Dirceu. “Esse hotel está movimentado demais e não há mais encontros sigilosos”, brincou Thomaz Bastos.