Lucro líquido de banco envolvido no mensalão cresceu 205%

BMG concedeu empréstimo de
R$ 2,4 milhões ao PT avalizado
por Marcos Valério.

Rio de Janeiro – O Banco de Minas Gerais (BMG), envolvido no escândalo do mensalão por ter concedido empréstimo de R$ 2,4 milhões ao PT avalizado pelo publicitário Marcos Valério, se tornou um fenômeno a partir do ano passado. De instituição de pequeno porte pouco conhecida do público em geral, passou a ser detentora de uma carteira de R$ 3,7 bilhões em financiamentos e encerrou o ano com lucro líquido 205% maior que o de 2003.

O principal motivo do crescimento foi sua expansão no segmento de crédito consignado (com desconto em contracheque) a servidores públicos e, a partir de agosto de 2004, a aposentados e pensionistas do INSS. O BMG foi o primeiro banco privado a fechar convênio com o instituto (a Caixa Econômica começou em março de 2004, mas é estatal) e tem hoje a maior participação do total de 3 milhões de empréstimos a segurados, mesmo sem pagar um só benefício do INSS: 36,6%, o que corresponde a R$ 2,57 bilhões em créditos e 1,13 milhão de endividados, até o dia 13 de junho, segundo o Ministério da Previdência. A Caixa vem em segundo lugar, com 27,3%.

A entrada do BMG neste mercado foi possível graças a uma mudança na lei que regulamenta o crédito consignado feita pelo governo no início de agosto, que acabou com a exigência de o empréstimo ser feito na instituição pela qual o segurado recebe seu benefício. Dos 33 bancos conveniados ao INSS hoje, só quatro são de grande porte – Unibanco e Santander, além de Caixa e Banco do Brasil.

Empréstimo

O BMG detém atualmente cerca de 40% de todo o crédito consignado do País, com uma carteira de mais de R$ 6 bilhões e cerca de 3 milhões de pessoas, segundo dados da própria instituição. O grosso das operações é feito pelo telefone, já que o banco possui em média apenas uma agência por estado.

Em janeiro deste ano, a Caixa Econômica Federal comprou parte da carteira do BMG de aposentados e pensionistas, numa operação cujo valor total poderá chegar a R$ 3 bilhões em dois anos. Foi a primeira vez que a Caixa comprou uma carteira de crédito comercial. O empréstimo consignado é a menina-dos-olhos do mercado hoje, porque o risco é quase zero, já que a prestação é descontada diretamente no contracheque, e as taxas de juros mensais variam de 1,5% a 4,5%.

Os pagamentos que o banco tem a receber dos empréstimos a servidores públicos são transformados nos títulos que são a garantia dos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs). Em 2004, o banco lançou R$ 578,5 milhões nesses fundos, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em 2005, registrou outros R$ 120 milhões em cotas de FIDCs.

As captações externas também vêm sendo uma fonte de recursos para o BMG. A mais recente foi feita em junho deste ano, quando o banco emitiu no exterior US$ 175 milhões em títulos, com vencimento em até cinco anos e juros de 8,75% ao ano pagos em dólar. O Grupo BMG inclui ainda uma subsidiária nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal.

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