Loja em Santo André era fábrica de fogos, diz laudo

O laudo do Instituto de Criminalística (IC) sobre a explosão de uma loja de fogos de artifício em Santo André, no ABC paulista, ocorrida em setembro de 2009, confirma as suspeitas iniciais da Polícia Civil, de que o imóvel no número 222 da Rua Américo Guazelli funcionaria como uma fábrica clandestina de produtos pirotécnicos. O IC concluiu que o acidente que deixou dois mortos e 12 feridos “se originou de pólvora branca em sua maior parte”. A constatação de que o local produzia fogos de artifício, no entanto, é negada pelo proprietário do depósito, Sandro Luiz Castellani.

Apesar das diversas tentativas, os peritos não conseguiram definir a quantidade de pólvora branca que estaria estocada na loja de Castellani. O produto, de alto poder explosivo, é matéria-prima para a fabricação de fogos de artifício.

Como o local da explosão teve de ser revirado pelos bombeiros em busca de vítimas e eventuais sobreviventes sob os escombros, indícios importantes acabaram sendo perdidos, como a exata distância em que carros e blocos de concreto foram lançados. No fim do ano passado, o IC de Santo André chegou a encaminhar alguns dados ao Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar, para que fossem analisados por um programa de computador capaz de simular o espectro da explosão, mas os ensaios se mostraram imprecisos.

Resultados

A solução encontrada pelo IC foi colocar técnicos debruçados sobre os resultados obtidos com base em detonações controladas, feitas no Aterro Sanitário de Santo André. Os peritos realizaram dois testes: um com pólvora branca e outro com fogos de artifício.

Os ensaios com a pólvora branca mostraram-se reveladores para a investigação. O “esfumaçamento” verificado pelos peritos foi compatível com o que se vê nas gravações feitas por policiais de Santo André, minutos depois do acidente. “Isso deu condições de comparativos de imagens em que se pode comprovar a existência de quantidade significativamente alta desse produto antes da explosão”, relata o laudo.

O texto prossegue com a explicação de que, ao contrário dos fogos de artifício, a explosão de recipientes contendo pólvora branca ocorre por “simpatia”, ou seja, logo que um deles pega fogo, a energia desprendida provoca a ignição imediata dos que estão ao redor, em uma reação em cadeia.

Estopim

Embora não tenham como determinar a causa exata da explosão, os peritos consideraram plausível a explicação de Castellani ao traçar a provável dinâmica do acidente. Ao se aproximar da rede da AES Eletropaulo, diz o laudo, a antena teria conduzido energia elétrica, que percorreu parte do corpo do dono da loja de fogos.

O tempo seco e o solado de borracha do calçado teriam reduzido a intensidade da corrente, mas não o suficiente para isolá-la completamente. A corrente então desceu pelo cabo da antena, fazendo com que o aparelho receptor do sinal entrasse em curto-circuito. As chamas teriam alcançado as embalagens com pólvora branca, dando início às explosões.

Os peritos assinalam, porém, que a provável sequência dos fatos levou em conta apenas os “vestígios e evidências recolhidos” no local. E advertem: “Não há com isso a corroboração de sua versão (de Castellani), mesmo porque há várias outras formas de promoção de fonte de ignição naquelas referenciadas dependências”.

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