Lobista pagou as contas de Renan

Foto: Agência Senado

Presidente do Senado, Renan Calheiros se atola em denúncias que mal consegue explicar.

Brasília – Reportagem da edição da revista Veja, que chegou excepcionalmente ontem às bancas, revela que Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior, uma das maiores do País, pagava contas pessoais do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

 A revelação complica a situação do senador cujo nome é citado ao menos duas vezes nas investigações da Operação Navalha, da Polícia Federal. Segundo o repórter Policarpo Júnior, o lobista da Mendes Júnior pagou, de janeiro de 2004 até dezembro do ano passado, R$ 12 mil mensais de pensão para uma filha do senador, de três anos de idade. Gontijo também bancou, até março passado, aluguel de um apartamento em Brasília, no valor de R$ 4,5 mil, para Renan.

A soma, no valor de R$ 16 mil, era entregue todos os meses num envelope, timbrado e com o nome de Cláudio Gontijo, à jornalista Mônica Veloso, mãe da filha do parlamentar. O lobista também manteria à disposição de Renan um flat num dos hotéis mais caros de Brasília, o Blue Tree, para ?compromissos que exijam discrição?. A relação entre o senador e o lobista não pára aí: Gontijo teria ajudado nas campanhas eleitorais de Renan e seus familiares e, com o apoio do peemedebista, influência sobre órgãos federais. As ajudas em 2004 foram para as campanhas de Renan Calheiros Filho (filho do senador), Robson Calheiros (irmão do senador) e de José Wanderley (afilhado político do senador). Derrotado naquele ano, Wanderley é o atual vice-governador de Alagoas.

A denúncia da Veja agrava a situação do presidente do Senado, atingido pela Operação Navalha. De acordo com a PF, Renan foi procurado para facilitar a liberação de verbas para obras de construção de canais tocadas pela empreiteira Gautama, carro-chefe do esquema, em Alagoas.

O senador admite conhecer Zuleido Veras, dono da empreiteira, e facilitado a liberação de recursos para obras da construtora em seu estado natal. Mas insiste que o fez a pedido do governo estadual e que não tinha intimidade com o empresário. O mesmo, no entanto, não se pode dizer da relação de Renan com o lobista da Mendes Júnior. ?Ele é meu amigo, nada mais?, disse Cláudio Gontijo à Veja ao negar contrapartida do senador às suas ?ajudas?.

Segundo a revista, o lobista admite ter bancado os R$ 16,5 mil repassados mensalmente à mãe da filha do presidente do Senado, mas ressalva que o dinheiro não era nem dele nem da empreiteira. ?Só posso dizer que não era meu?, disse. A direção da Mendes Júnior informou que desconhece os pagamentos ao senador. Mônica Veloso não se manifestou sobre o assunto.

Procurado pela revista, Renan afirmou que ele mesmo era o dono dos recursos. ?O dinheiro era meu?, disse. Questionado sobre as razões de o lobista fazer a intermediação, já que o dinheiro era dele, o senador disse que não falaria mais sobre um assunto que está sob segredo de Justiça. A soma do aluguel e da pensão (R$ 16,5 mil) supera os R$ 12,5 mil brutos que o senador recebe mensalmente como vencimento. O peemedebista diz complementar a renda com ?rendimentos agropecuários?.

?A vida íntima do senador Renan Calheiros diz respeito apenas a ele próprio. Não é um assunto público. Mas, quando essas relações se entrecruzam com pagamentos feitos por um lobista, o caso muda de patamar?, diz a reportagem. O lobista nega que a Mendes Júnior tenha se beneficiou da proximidade com o presidente do Senado para conseguir contratos com o governo: ?Não temos nenhuma obra executada no governo federal?. Ao ser lembrado que a construtora mantém contratos com a Infraero, a Petrobras e a Eletrobrás, estatais sob influência do senador, Gontijo retrucou: ?Para nós, isso é obra privada?.

A Mendes Júnior participa, entre outras obras, de consórcio pela construção do aeroporto de Vitória e tem contratos com a Petrobras para a construção de tubulações e manutenção industrial. Ainda, com a ajuda de Renan, o lobista chegou a indicar nomes para cargos públicos, como o do engenheiro Aloísio Vasconcelos Novais, que assumiu a Eletrobrás quando Silas Rondeau deixou o cargo para ser ministro de Minas e Energia. Rondeau, que deixou o governo, sob a suspeita de receber propina da Gautama, fora indicado para o ministério por Renan Calheiros e por seu antecessor, José Sarney (PMDB-AL). 

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